sexta-feira, 30 de abril de 2010

OS DESAFIOS DO SAGRADO


Deus é um contador de história, ou se preferir, estória. Falo assim porque a cada história dá-se a oportunidade ou desafio de mudança. O Espírito é dinâmico e como tal nos motiva a funcionar, a nos mover na vida e sempre na pretensão de crescer.
Não é difícil ver o Deus da Bíblia presente em Jesus e em cada história de seus amados. Essas composições bíblicas nos aproximam da realidade do Emanuel (Deus conosco) presente também em nossos eventos rotineiros.
Assim como Jesus se aproxima dos barcos dos pescadores (Lc 5.1-11), se aproxima de nossa realidade de vida e em nosso ambiente de trabalho e relacionamentos. Isso é verdade, por mais que esses eventos estejam carregados de desventuras, assim como aqueles pescadores desventurados que passaram a noite pescando e agora estavam lavando as redes sujas resultado de uma noite de pescaria sem pescado.
Caminhando por esse texto penso nos possíveis desafios da parte de Deus que nos quer bem. Esse Deus na pessoa de Jesus deseja ardentemente nos promover a uma vida de crescimento e, penso que dá pra gente tirar algumas conclusões de como isso acontece, não como regra, mas como possibilidade:

Em primeiro lugar somos desafiados a abrir espaço para que o sagrado se manifeste. Logo nos primeiros versículos de Lc 5 vemos Jesus sendo pressionado por uma multidão ávida por uma palavra de sua boca. O que Jesus faz? Entra em um dos barcos (o de Simão) e pede para que o afaste para que de lá ensine ao povo. Ora, a carência de se ouvir uma palavra é evidente, bem como a carência de espaço para o sagrado em muitos ambientes e níveis da história humana. Há carência de abertura de espaço em muitas ambiências universitárias, empresas dentre tantas. O que aconteceu com Simão foi um desafio a abrir espaço para que uma palavra de esperança soasse de forma abençoadora. Isso aconteceu de dentro de um barco cuja história foi inglória. Até parece que Deus escolhe os mais carentes para, a partir daí trabalhar sua bondade e esperança. Simão foi testemunha da palavra de esperança para aquela multidão. Foi ele quem abriu esse espaço e de lá a palavra surgiu.

Em segundo lugar o desafio passa da abertura do sagrado aos outros para a abertura para o sagrado de forma mais particular. Veja que há um monte de gente que abre espaço para sagrado para o filho lhe indicando a agenda de uma igreja ou incentivando à oração e leitura da Bíblia. Alguns maridos chegam a lembrar à esposa da agenda de um evento da igreja, vai deixá-la na igreja ou em um evento sagrado fora do templo. O problema é que essa abertura vai abençoar ao outro assim como Simão abençoou a multidão. Isso garante o sagrado para os outros enquanto, apesar de se conquistar um possível título de amigo do bem, do sagrado ou do evangelho, esse é um envolvimento indireto (para os outros) e não direto (para si mesmo). Lucas disse que Jesus se dirige diretamente a Simão, lhe chamando pelo nome lhe pedindo um envolvimento de abertura do sagrado para seu nível pessoal. No termo: “Simão, vá para as águas mais fundas” está inserido a proposta de um envolvimento pessoal. Uma oportunidade de abertura de coração para o sagrado. Isso indica que na relação com o sagrado, o marido, tanto quanto a sua esposa deve ser desafiado a abrir espaço para o sagrado. Assim, os pais devem abrir espaço para o sagrado também para eles. Não é, “faça o que eu digo que é melhor para você”, mas, “façamos todos, nos envolvamos com o sagrado que é melhor para todos nós”. É importante ter a mesma agenda relacionada ao sagrado e todos participarem da fé individual e comunitária.

Em terceiro lugar há o desafio de conhecer a pessoa de Jesus mais do que os conceitos sobre ele. Veja que o versículo 5 diz que Simão respondeu a Jesus: “Mestre, nós nos esforçamos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes”. Logo mais Simão se tornará discípulo de Jesus, mas nesse momento ainda não é. Ele reconhece Jesus como “Rabi” ou “Mestre” e, por isso lhe obedece. É como se dissesse: “Mestre, quem é pescador aqui somos nós. E, como tais, passamos a noite tentando e nada pegamos, mas como sabemos que és mestre, e como tal te reconhecemos, faremos o que nos diz, afinal, todo judeu deve obediência aos mestres”. Então, eles obedeceram Jesus, não por imaginar a possibilidade de uma pesca lucrativa, nem por serem discípulos (ainda não são), mas como obedientes culturais aos mestres. Enfim, quando lançam as redes, tomam um baita de um susto quando percebem a maravilha da pescaria. É então que Simão percebe que Jesus é mais do que um simples mestre que exige obediência. Esse Jesus é alguém especial. Para Simão, Jesus agora é reconhecido, mais do que como a uma divindade, como a uma deidade. Ele é Deus. É por isso que se dobra a essa revelação e diz: “Afasta-te de mim, não sou digno... sou um pecador”. Isso nos diz que quando descobrimos em nosso coração quem é Deus, descobrimos também quem somos. Agora Simão, bem que poderia escrever um livro de “auto-ajuda” sobre “como se tornar um sucesso na pescaria, segundo Jesus”. Na verdade, ele percebe que conhecer Jesus é bem melhor que aprender algo sobre ele. Nosso desafio é mais do que seguir o exemplo do mestre. É reconhecê-lo como é em sua deidade. Então, mais do que apontar o caminho, ele quer ser o caminho; mais do que apontar a verdade, ele quer ser reconhecido como a verdade; e, mais do que apontar a vida, ele deseja ser sua vida.

Por fim, o próximo desafio é viver uma nova dimensão de vida. Os versículos 10 e 11 falam desse desafio: “Simão, não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”. Eles então arrastaram seus barcos para a praia, deixaram tudo e o seguiram. Por “nova dimensão” digo do desafio e da beleza de, diante de toda essa experiência com o sagrado, viver um novo sentido de vida dentro da realidade de sua história e de todos os eventos comuns (pescaria, no caso de Simão). É o mesmo que dizer: “Sê tu uma bÊnção!”. Seja uma bênção em seu trabalho e faça dele uma bênção! Faça de seu novo estilo de vida uma oportunidade de abençoar e promover o bem para que pessoas sejam alcançadas pela bondade de Deus. Veja que quando eles deixaram tudo e o seguiram, não o fizeram de forma irresponsável, mas que todo o reconhecimento de riqueza teria novo sentido. A bênção, mais do que o sucesso no trabalho, seria a beleza de contar com Deus em todo o processo de vida.

Esse é nosso desafio como filhos e filhas de Deus. Tudo se torna secundário diante da presença de Deus em nossas vidas. A maior riqueza de vida está na caminhada com esse Deus que se revela no nosso barco, ainda que em desventura, mas com a possibilidade de transformação total e abençoada tanto como abençoadora. Esse é um novo sentido de vida que transforma um coração amargurado pelas desventuras da vida em novas e tremendas possibilidades que ultrapassam os conceitos de sucesso mundano e triunfalista. Claro que é bom ter dinheiro, bens, etc., mas nada como em todo processo de vida podermos perceber Deus e sua bondade transformadora.

Josué