sexta-feira, 15 de julho de 2011

JESUS PARA PRESIDENTE


Para mim estava claro que o que Jesus desejava de nós não era a obediência submissa a um conjunto estreito de regras, e sim uma abertura mental inteligente e ilimitada que nos permitisse - na vida real, no dia-a-dia da vida americana moderna - tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. Gays, judeus, idiotas, ricos, pobres, mulheres, homens, gente de direita, liberais, soldados e manifestantes contra a guerra, talvez até animais - deveríamos ver através do disfarce que estavam usando e chegar ao EU SOU que havia dentro deles. Era isso. Esse era o grande mandamento, eu tinha quase certeza.
Mas não sabia como dizer isso a minha mãe, como usar a parábola certa, o símbolo correto, a frase ideal. Por isso a envolvi com o braço por um minuto e disse:
- Comecei a ler a Bíblia, mãe. Por sua causa.
O que a deixou feliz e não custou nada.

(extraído de "JESUS PARA PRESIDENTE - e se Jesus se candidatasse à presidência dos Estados Unidos?", Roland Merullo. Ed. Sextante, págs 141-142)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A ALEGORIA DA CAVERNA (por Platão)


Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea. Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de sorte que tudo o que vêem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna pedem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ale desde que nasceram, elas acham que as sombras que vêem são a única coisa que existe.

Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. O que você acha que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca a sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sair da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido a abundância de luz. Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contorno precisos; verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da caverna não passavam de imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêem os animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver as sombras refletidas na parede.

Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar. Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo que vêem é tudo o que existe. Por fim, acabam matando-o.

(De: “O mundo de Sofia”, por Jostein Gaarder. Cia Das Letras, págs 104-105)