quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Reavendo a Vida |Ep. 39 | Meu Yom Kippur

Reavendo a Vida | Ep. 38 | Curai os enfermos.

Reavendo a Vida | Ep. 37 | Novas lentes de leitura bíblica

Reavendo a Vida | Ep. 36 | Retira-te Satanás

Reavendo a Vida | Ep. 35 | Matutando sobre a vida e sobre Deus

Reavendo a Vida | Ep. 35 | Matutando sobre a vida e sobre Deus

Reavendo a Vida | Ep. 34 | Cuidado com a inveja

Reavendo a Vida | Ep. 34 | Cuidado com a inveja

Reavendo a Vida | Ep. 33 | JESUS: esse nome tem poder.

Reavendo a Vida | Ep. 32 | O inferno grita aqui não gente

Reavendo a Vida | Ep. 31 | Não apague o evangelho da cruz

domingo, 22 de junho de 2014

Reavendo a Vida | Ep. 24 | Festa Junina, cultura e bíblia

Reavendo a Vida | Ep. 23 | E quando nada acontece?

Reavendo a Vida | Ep. 22 | Tudo posso naquele que me fortalece.

Reavendo a Vida | Ep. 21 | Problemático ou Solucionático?

Reavendo a Vida | Ep. 20 | O que pode estar por trás do poder

Reavendo a Vida | Ep. 19 | Minha opção pelo bem

Reavendo a Vida | Ep. 18 | Reflexo de nossas relações e de nossos sonhos

Reavendo a Vida | Ep. 17 | Nos Bastidores do Evangelismo

Reavendo a Vida | Ep. 17 | Nos Bastidores do Evangelismo

Reavendo a Vida | Ep. 16 | Te adoro Senhor

Reavendo a Vida | Ep.15 | Abalado sim, morto, não.

Reavendo a Vida | Ep.14 | Ave Maria

Reavendo a Vida | Ep.13 | E se no final houvesse apenas um ponto final?

Reavendo a Vida | Ep. 12 | Quem é Este?

Reavendo a Vida| Ep. 11 | O Servo e o Soberano

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Reavendo a Vida | Ep. 07 | Percebendo sua doce presença


Reavendo a Vida | Ep. 06 | E o verbo se fez carne.


Reavendo a Vida | Ep. 05 | Quem voces dizem que eu sou?


Reavendo a Vida | Ep. 04 | O Barato Que Sai Caro


Reavendo a Vida | Ep. 03 | Uma Vez Condenado...


Reavendo a Vida | Ep. 02 | Meu Pai Meu Herói


Reavendo a Vida | Ep. 01 | Reencantando-se com a Fé


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

E O VERBO SE FEZ CARNE

Grandes pregadores entraram para a história, não só por causa do conteúdo de suas mensagens, mas por causa do poder da oratória.

Ainda lembro que empolgado vi o Dr. Billy Graham arrebatando multidões e quando cheguei à Betesda ouvi o mestre Ricardo Gondim.

No clássico “Heróis da fé”, Orlando Boyer relaciona 20 grandes heróis da fé. Dentre eles: Charles Spurgeon, John Wesley, Jerônimo Savonarola, D.L.Mood, Charles Finney... grandes oradores.

O valente Martin Luther King Jr., que luta contra a segregação racial e prega seu famoso sermão: “Tenho um sonho”.

Aliás, a mensagem que nasce da luta é mais empolgante e mais verdadeira porque não se trata de palavras lançadas ao ar, mas, independente da retórica, são palavras que refletem uma realidade histórica, reflexo de um ideal.

Interessante é que, para uns a comunicação é tão normal e fluente que parece ser um dom desde a infância. Faz parte da pessoa. Já para outros, com uma boa leitura, um conhecimento bíblico básico somado a algumas técnicas conseguem dominar a arte da homilética.

Agora, cá pra nós, quando ouvimos um candidato político na TV a gente fica duvidando da fala da pessoa que cuja atitude lhe contradiz a retórica, ou seja, por mais bela que seja a fala, quando esta destoa da prática, cai em descrédito.

O mesmo vale para os pregadores. Eles ficam desacreditados quando a prática ou a vida contradiz sua mensagem.

Claro que entendo que a mensagem é maior do que o pregador, pois é o ideal. É também a busca do próprio líder, pregador, mensageiro.

Quer um exemplo mais claro?

Jesus perdoou um monte de gente:

No ato de sua prisão acudiu o soldado machucado ainda que continuasse preso; ao que o negou foi concedido nova chance; ao que o traiu foi concedido a oportunidade de revisão; até à multidão que o condenou e o matou, ele perdoou; a todos aqueles que o abandonaram no pior momento foram visitados pelo seu perdão e graça.

Eu podia me estender falando desse perdão até chagar a mim e a você. A mensagem sobre o perdão é linda. O poder perdoador é libertador e é uma maravilhosa mensagem. “Não se esqueça de seus benefícios. É ele quem perdoa seus pecados e quem sara suas feridas.”

Gente, não é tão difícil falar sobre algo empolgante, principalmente quando estou do lado de cá, do lado da vantagem, fidelidade, amor, céu. Quando ainda não fui afetado.

Mas, e se fosse comigo?

Em relação a Jesus, o verbo que se fez carne e vimos a sua glória. Mas, em relação a mim, o verbo continua verbo, palavra, retórica. É provável que eu mesmo ainda não tenha conseguido me ouvir. Consigo falar, pregar, aconselhar, mas não consegui ouvir o que disse ou digo. Falei ao outro, mas ainda não falei a mim mesmo.

A carne pretende se fazer verbo, mas o verbo não consegue se fazer carne, logo não há glória. A glória só faz sentido na história da nossa humanidade. A glória só foi vista quando o verbo se fez carne/história.

É muito fácil pregar sobre o amor, sobre o perdão, sobre a fidelidade e não fazer nenhum sentido para mim pelo grau de dificuldade em lidar com essas carências.

Apesar de a mensagem ser um ideal, logo ser maior do que a minha prática, eu preciso me resolver, buscar me aproximar da mensagem. Do contrário estou vivendo uma hipocrisia religiosa.

Se meu ministério é levar a palavra de salvação, de cura, de libertação, de perdão para o outro, meu desafio é proporcional a essa mensagem. Meu desafio é experienciar essa mesma palavra na minha caminhada de vida. O verbo precisa se fazer carne, se fazer história em mim para que a glória se revele.

Mas, que glória?

A glória do Pai que confere a beleza do filho refletindo na carne a sua palavra que não voltou vazia, mas se fez concretude na caminhada desse filho. Isso é glória, isso é honra, isso é verbo feito carne e fazendo história... história de um filho parecido com o pai, cheio de graça e de verdade.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

QUEM VOCÊS DIZEM QUE EU SOU?

 Desde cedo aprendi a ler a bíblia. Sou da época da bíblia mirim. Aprendi a ver Jesus como o salvador do mundo. O herói dos heróis.

Quando criança eu me encantava com o filho de Deus que obedecia aos seus pais. Ele parecia está sempre rodeado de ovelhas. Eu me sentia uma delas.
- Jesus era o amigo das crianças e dos animais.

À proporção do meu crescimento já percebo um Jesus diferente. Ele é exigente da obediência e dizia que, no Reino do Pai é melhor entrar com um só olho do que com dois olhos no inferno. Esse inferno esperava aqueles que teimavam olhar para as mulheres com desejo. E eu morria de medo porque não sabia quando desejava ou quando estava só apreciando uma beleza.

Nessa época, a libido era meu problema. Os hormônios se afloravam em minha jovialidade e eu temia passar a eternidade no inferno. Até a polução me aterrorizava. Enfim, sobrevivi.
- Jesus era o justo juiz que pune pecados e pecadores (era amor, mas também justiça).

Com o tempo, minha leitura ficou focada no poder milagroso de Jesus. Era o Deus que faz, o todo poderoso, o Deus do impossível.
Afinal, quem podia realizar as maravilhas registradas na bíblia? (Exemplo: cegos, leprosos, paralíticos, mortos, bem como poder para multiplicar pães e paralisação do poder da tempestade).  É difícil tirar essa visão. Poder sobre a natureza, poder sobre as doenças, poder sobre a vida e sobre a morte. Nesse tempo aprendi que só fica doente quem não for fiel.
- Jesus era o poderoso milagreiro, reflexo da providência.

Essas percepções ainda são comuns para muita gente. Tudo isso faz parte do entendimento. São percepções que nascem de acordo com o estado de espírito ou de acordo com a necessidade da pessoa.

Quem é Jesus para o “povo”? Eu faço parte desse “povo?” Sim, mas quem é Jesus para mim?

Bem, já há um bom tempo tenho lido e relido a bíblia. Percebi o quanto tenho caricaturado Deus, o quanto tenho caricaturado Jesus.

Precisei rever meu conceito sobre Deus a partir deu uma releitura da bíblia. Foi então que conheci o maravilhoso Jesus. Não era mais um Deus transvestido de homem. Também não era um Deus que se escondia por trás da limitação humana.

Jesus é o o homem em quem se encerra o poder divino – o Cristo. Aquele que se desgasta em amor. É movido por amor. Por amor se gasta para salvar o povo de seus pecados. Sendo Jesus a máxima expressão de Deus, sobre si questionam:  “Não é este o filho de José?”


Sim, é como filho de José, como humano que sofre e se compadece e que assume a vida com toda a demanda. Ele é o filho de José, que sendo tão humano só poderia ser reconhecido como o filho de Deus.

O BARATO QUE SAI CARO

Promoção é uma condição de vantagem, ou de facilidade. Uma atração por causa da concessão de um desconto ou por uma facilidade de pagamento. A maioria de nós gosta de promoção.

Por causa da dinâmica de nossos dias não temos tempo e o pouco que temos não queremos perder. Talvez por isso ficamos viciados ao imediatismo. “Rápido. Não temos o dia todo”.
Ex: Antes íamos ao banco, depois usamos o caixa eletrônico. Hoje a maquineta vem a nós ou usamos a internet banking... por enquanto. “O tempo é ouro!”.

Você pode conferir comigo: É horrível gastar tempo na fila; é um horror nosso congestionamento de cada dia. É doloroso a espera para ser atendido no hospital.
E o que falar do serviço interminável do pedreiro? E ainda tem caso que demora ser resolvido na justiça.

É então que surge a ideia do “jeitinho brasileiro”. A busca de vantagens para economizar dinheiro, tempo e esforço. Esse tipo de promoção pode trazer sérias consequências. É o barato que sai caro.
É a roupa mais barata que mal resiste à primeira lavagem; é o carro velho mais barato que você descobre que estava com seus dias contados; é o móvel lindo que não aguenta a mudança; é a madeira mista para o telhado que só serviu para proliferação do cupim; ou a reforma da casa que negociamos com alguém que cobra mais barato, mas que ganha tempo e não termina a obra e você fica no prejuízo.

Aliás, Jesus usa a metáfora da construção da casa para apontar a construção da nossa vida.
Ele fala de uma casa de construção fácil e rápida (sobre a areia), e de uma casa construída sobre a rocha (o que demanda mais tempo, maior esforço e por certo, maior gasto).

Muitas vezes preferimos as coisas fáceis, mais rápidas e que se aprontam mais cedo sem perceber que pode ser apenas uma maquiagem. Sem durabilidade, sem consistência diante da crueza da vida.

Quando cantávamos na nossa comunidade:
“Onde eu estiver, a rua bênção me seguirá//Onde eu puser a planta dos meus pés, possuirei.
Os meus celeiros fartamente se encherão,//Pois sobre mim há uma promessa.
Prosperarei, transbordarei para a direita e para a esquerda,//À minha frente e para trás.
Por todo lado sou abençoado.
Toda sorte de bênção o Senhor preparou para mim...”.

Resultado: Casa cheia.

Mas logo percebi que essa promoção não tinha consistência na vida do povo. Não dava liga com a realidade do dia a dia. Coisas difíceis continuaram acontecendo: casamento desfeito, roubos, abalroamento, causa perdidas, falecimento, sofrimento em geral.

Eu estava enganando o povo. E o povo se enganando.

A pergunta ficou no ar: “Onde erramos?”

Então passei a repensar meus conceitos, refleti e passei a ensinar diferente. Muitos não gostaram. Tudo bem, a vida é dura. O barato sai caro.

Muita promoção bonita e imediatista não passa de um sonho do nosso coração ganancioso.

Desconfie de todo testemunho que defende uma espiritualidade que oferece atalho para a bênção ou que exclui a dor. Essa promoção é o barato que pode sair muito caro.

Jesus nos convida a reaver a nossa vida para que não sejamos surpreendidos pela crueza da vida e saiamos machucados.

Na falta de consistência acabamos nos frustrando. E, não adianta tapar o sol com a peneira. Não adianta dizer: “Deus é quem sabe”. Isso é indiscutível tanto quanto a realidade de você também saber que o barato pode sair caro.

Cuidado com esses atalhos em nome da fé. Muito da nossa espiritualidade pode ser apenas maquiagem com consequência frustradora. Uma espiritualidade que não resiste às tempestades da vida.

Pense nisso: busque uma espiritualidade que te proporcione coragem para enfrentamento da vida. E, abra do olho, pois, o barato pode sair muito caro para você.

O barato que sai caro é viver uma espiritualidade de retórica sem engajamento com os valores do Reino de Deus. Valores que dão sentido e sustentação à vida cristã.

Quer um exemplo? Jesus. Ele viveu essa espiritualidade e nos fez ver que é possível acertar o passo ao seu. É possível levar a vida a sério, ainda que essa vivência seja mais intensa e mais dispendiosa. Mas, vale a pena vive-la sem atalhos, sem queimar etapas.

Viver é bom demais para se desgastar em atalhos ou procurar promoções ilusórias.

Então, viva intensamente a sua vida com coragem e autodoação. Essa é uma vivência que faz sentido e que se aproxima da vida do filho de Deus.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

UMA VEZ CONDENADO...

É muito conhecida a expressão que aponta para a condição do escolhido, ou do salvo: “Uma vez salvo, salvo para sempre”. A salvação por esse termo seria uma marca que Deus graciosamente dá a alguns, enquanto o restante da humanidade...

Bem, a ênfase é que, se todos estão perdidos, Deus em sua soberania escolhe alguns para a salvação a que não tinham direito porque ele é bom. E feliz é aquele que é escolhido. Perceba que essa retórica é comumente reconhecida pelos que se entendem escolhidos.

Confesso que não simpatizo com esse raciocínio (com esse termo). Mas creio na condição da salvação que é graciosamente operada na fé que se revela salvação eterna em sua condição divina. No mais, pelo que vejo no comportamento de Jesus – que é salvação, é que essa tal salvação é um projeto de múltiplas salvações. Salvação do ser humano como um todo, levando em consideração seus pecados como processo de desumanização. Isso tem a ver com salvação nos mais diversos níveis, nas mais diferentes instâncias (familiar, política, tendência ao egoísmo, intolerância, egocentrismo, etc.). Quer seja uma salvação particular (individual) ou uma salvação coletiva (social). Salvação das e nas relações.

Não podemos esquecer que “o filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”. E Ele “não veio para condenar o mundo, mas (veio) para que o mundo fosse salvo por Ele”.

Observe que quem facilmente condena somos nós. Quem estreita o caminho somos nós. Nós é que fechamos a porta, inclusive a porta do nosso coração.

Nesse contexto nos debatemos diante de um problema. Geralmente nós filtramos o outro pelo seu erro, como se o outro se resumisse ao erro, e o condenamos para sempre. Filtramos o outro pelo evento que o maculou, como se esse outro fosse tal evento. Esquecemos que ninguém é o mal feito, a não ser que tal mal tenha se tornado seu estilo de vida. Talvez precisemos enxergar o outro como aquele (a) que cometeu um ato mal e não o mal em si. Não com a personificação de tal mal.

Mas, por favor, me diga:

Você convidaria para uma xícara de café alguém que um dia o traiu?

Você convidaria para levar adiante um projeto seu, alguém que o negou?

Você honraria alguém que o traiu feio, a ponto de tal traição o levar a vivenciar um calvário de sofrimento? 

Pergunto:

Não foi isso que Jesus fez diante da negação, traição e abandono dos seus amigos?

Aliás, sabemos que o amargo sabor da traição está em ser traído por alguém de quem não se espera. Isso porque só somos traídos por quem está do nosso lado, por quem amamos. O inimigo não trai, só o amigo, por isso é doloroso.

Mas, para Jesus, uma vez condenado pelo mau evento, não tem que ser condenado para sempre.

O Pedro que nega Jesus é reabilitado à confiança; ao Judas que na narrativa do evangelho, se lê que ele entrega Jesus aos seus algozes é oferecido o símbolo da honra, o primeiro pedaço de pão (a primeira fatia do bolo, assim como fazemos em nossas festas querendo honrar alguém); à multidão manipulada, fraca que, unida leva Jesus à cruz é lembrada no momento da intercessão, apesar do sofrimento: “Pai, perdoa”.

Esse foi o comportamento assumido pelos discípulos e, devia chegar até nós. Quando alguém trai, traiu, mas não tem que carregar essa mancha de traidor para sempre. Uma vez condenado não tem que ser para sempre. É a opção do perdão ao outro e a si mesmo. Liberar o outro e ficar liberado desse peso. Isso é questão de provocar o outro para que o mal não se torne seu estilo de vida.

Ex: Pedro, tu me amas? Há em seu coração o desejo de acertar o passo? Judas, você está me matando, mas não tem que ser sempre assim. Gente, você me condena, mas devia procurar me conhecer melhor.

Porque uma vez condenado, não tem que ser condenado para sempre. A condenação não pode me definir alguém eternamente como um errado. Apesar de continuarmos passíveis de erro, devemos lutar contra esse mal e seguir em frente. Buscar somar o bem, apostar na paz, perdão e amor.

Uma vez condenado, repense essa condição, porque aquele que assume seu erro e procura acertar o passo, pode alcançar misericórdia. Pode sim se enxergar num processo de salvação.

Uma vez condenado... quer pela justiça, quer pela sociedade, quer pela igreja, ou por outro, acredite – pode sim experienciar a chance de acertar o passo, pode sim ter jeito, e ainda pode ser salvo.

Portanto, não deixe que a condenação imposta a você o defina como um condenado eterno, mas que uma vez condenado, desafiado está a lutar para que esse estigma condenatório se torne em marco de transformação e retorno ao caminho da superação.

Um processo de salvação que se registra como uma nova chance que deve ser aproveitada na sensibilidade do ir e não se condenar novamente, já que Deus prova seu amor para conosco apesar de nós, apesar de nossa condenação.

Uma vez condenado... que bom que ainda posso recuperar minha dignidade pela graça salvadora de Cristo.

MEU PAI, MEU HEROI!

 Sou o primogênito lá de casa. Eu ainda era criança quando meus pais trabalhavam numa fábrica de tecelagem. Sábado era um dia especial para ele e também para nós. Quando pedíamos algum dinheiro, a resposta do papai era sempre: “Só sábado!” Sábado era o dia em que ele recebia parte de seu salário.

 Eu amava quando o papai, no domingo me chamava para ir à feira comprar a galinha para o almoço do final de semana. Ninguém fazia uma galinha melhor do que a mamãe. A mesa ficava rodeada por todos nós e o papai sempre se sentava na ponta da mesa. Era o seu lugar.

 Já nesse tempo, o meu pai era sagradamente o nosso herói. Quem fazia as compras? Quem disciplinava a gente? Quem resolvia as broncas?

 Quando a mamãe dizia: “Vou contar a seu pai.”, mais do que o medo da disciplina, nós nos conscientizávamos da proporção do mal feito.

 Além de tecelão, meu pai fazia trabalhos de encanador hidráulico e serviços básicos de eletricidade. Eu me sentia grande quando ele me chamava para ajudá-lo.

 Ainda hoje gosto muito de uma expressão que costumava dizer: “Nem tudo é perfeito, mas tudo o homem pode aperfeiçoar!”.

 Ainda me lembro de quando em alguns serviços de eletricidade, na falta de uma escada, ele se punha sobre uma mesa e de repente eu ouvia: “Cuidado, não toque em mim, porque estou cheio de choque!”. Cara, meu pai era muito poderoso. Aguentava choque elétrico. Papai era sem dúvida meu herói.

 Mas fui crescendo e me emancipando. Precisava de espaço. Precisava seguir meu caminho. Com isso, ele não deixou de ser meu pai e nem eu deixei de me sentir seu filho.

 Nesse tempo eu já percebia que ele não era o “poderoso” que imaginava. Eu havia construído uma imagem mitológica. Mas é interessante lembrar que o encanto que tinha pelo meu pai não havia diminuído. Eu estava começando a me atualizar naturalmente em relação a meu pai.

 Eu precisei admitir a verdade de que meu pai não era o todo poderoso do jeito que imaginava. Pelo menos, não por suprir a casa junto à mamãe, nem por ser criativo, por trabalhar ou educar seus filhos. O suposto poder do meu pai não estava no fazer de pai, mas em ser PAI.

 Enquanto eu crescia e amadurecia, ele foi se revelando ou eu o fui percebendo humano com emoções, vontades, disposição para liberar seus filhos para viverem suas respectivas vidas.

 O papai não diminuiu em nada no meu conceito. O que aconteceu foi que ele me possibilitou dentro de meu amadurecimento a ver seu “poder” através de outras lentes. Meu problema estava no que entendia sobre ser poderoso ou ter poder. Não se constatava a falta de poder, mas no que consistia esse poder.

 Foi então que perdi o medo de me frustrar por sua suposta falta de poder. E, era isso que me fazia crescer e seguir adiante. Aquele que segurava na minha mão para que atravessasse a rua com segurança, agora me fazia perceber que eu podia acreditar no valor a mim legado. Eu podia caminhar com minhas próprias pernas.

 Gente, isso tem tudo a ver com a relação que tenho com Deus. Na bíblia, Paulo disse que quando era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino, mas, quando se tornou homem, ele passou a se comportar de acordo com o homem que se havia tornado. Nosso comportamento infantil não deixou de ser nossa história. De acordo com o tempo e o entendimento nesse tempo, tudo valeu a pena, valeu o feito, mas o tempo passa. Foi o que aconteceu, passou. A vida segue seu curso. O leque das percepções se abriu. As responsabilidades nos chama. E, nós vamos crescendo, nos atualizando e, vivendo novas realidades.

 A figura que fazia de Deus como uma entidade celestial com todo poder, que resolvia meus pepinos e que eu o chamava para dar um jeitinho para que fosse chamado no emprego e que me livrava de todos os acidentes, também não diminuiu ao perceber seu poder por outras lentes. Tal conceito de poder foi revisto. Com isso deixei de ver Deus de forma intervencionista personalizada para perceber a ação maravilhosa de Deus na nossa história que se concretiza à medida de nossa sensibilidade e amadurecimento. Foi em Jesus que entendi Deus no humano, sendo o verdadeiro humano; se mostrando bem humano.

 Para mostrar o quanto aposta no crescimento humano, Jesus disse: “Aquilo que faço hoje, vocês só compreenderão depois”. Depois quando? Na oportunidade de crescimento, sensibilidade e amadurecimento.

 Então, é maravilhoso perceber que Deus não foi diminuído na figura de Jesus. Na verdade, Ele foi evidenciado. Isso mostra o quanto Deus ama o humano e o quanto ele é a fonte de nossa divina humanidade. E, é assim que nos tornamos mais parecidos com o Pai, o meu, o nosso Pai herói.