domingo, 1 de dezembro de 2013

Reencantando-se com a fé

O ser humano é um ser de fé. O ser humano facilmente se encanta com a fé.

Como não se encantar com a fé ou com uma mensagem estimulante que leva em conta a condição de carência ou insegurança?

Carência e insegurança fazem parte dos altos e baixos da vida humana. Nem todo dia chove no roçado, nem todo ano é de fartura, e nem sempre o bom homem tem condições de trabalhar.

E, ainda que tudo esteja bem para alguém, quando numa visita de rotina ao médico que pede alguns exames, já se sabe que o resultado pode surpreender. É quando surge o medo. O medo da vida em suas oscilações.

Daí, ouve-se uma mensagem provocante de uma fé no Deus da Providência. Essa é uma mensagem de esperança.

Para quem está sofrendo, essa fé pretende garantir uma intervenção divina, sobrenatural, pessoal e distinta. É o caso de sentir privilegiado.

Para quem não está sofrendo, mas que sabe dessa condição, essa fé pretende garantir um adiantamento dessa intervenção a ponto de haver uma segurança quanto à possibilidade de algo ruim. Para muita gente isso é encantador. E, não se deve tirar a fé das pessoas.

Mas a questão é que qualquer evento, bom ou mal, está para todos os seres. Não é verdade que o sol nasce para todos? Todos os seres humanos estão sujeitos a tudo! A caminhada cristã não confere o resultado dessa fé triunfalista. É uma frustração se sentir excluído do resultado positivo de uma fé nutrida dentro de uma condição mal ou não resolvida.

A fé triunfalista não bate com o cerne da mensagem de Jesus. Nem bate com a realidade histórica. Essa fé pregada na mensagem triunfalista parece privilegiar alguns em detrimento da maioria. Visite um hospital onde se pode conferir essa realidade nua e crua. Onde estão as pessoas de fé? Ou melhor, aquelas pessoas não têm fé? O problema não estaria no conceito de fé ensinado e, infelizmente não conferido na realidade da vida?

E, o que dizer de uma mensagem que ressalta uma fé de causa e efeito? Abrindo o leque para enxergar a maioria dos casos, veja se confere o resultado dessa fé? Não obstante alguns resultados positivos, até onde o sacrifício, o cumprimento de regras, ou mesmo o que se chama de obediência aos preceitos têm, de fato, garantido saúde, segurança, fartura e sucesso?

A fé que privilegia uns em detrimento da maioria não combina com a fé pregada e vivida por Jesus. A fé revelada em Jesus é uma confiança no Amor. A fé nutrida por Jesus é a encarnação do “Verbo” que leva o ser filho ou filha de Deus a se tornarem respostas às suas próprias orações.

A verdade é que já pode-se notar o desencantamento dessa fé triunfalista e de causa e efeito. Mas, a fé não se perdeu. Há um novo encanto da fé. Há um reencanto com a fé a partir de um conceito percebido em Jesus. Trata-se de encarnar uma fé que produz vida, que produz coragem e que ousa encara a vida com todas as suas adversidades. É essa fé que leva o ser humano seguir em frente apesar das pedras no caminho. É essa fé cuja percepção da providência divina é o próprio humano que a partir dele e de sua história se reinventa, cria e vive sua vida com todos os seres afins numa grande comunidade de amor, fé e esperança.


É reencantadora a fé que tem a vida como uma grande aventura e ao olhar para sua história vê que valeu a pena cada passo confiante junto aos valores do Reino que leva o ser de fé a olhar e vibrar para uma realidade que supera a cruz. É o reencantamento de uma fé que enche a alma de esperança de que nada foi, é ou será em vão.

Josué Gomes

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Bodas de Pérola

Descobri que estamos completando “Bodas de Pérola”. Soubemos também que “Boda” é voto, é promessa, é festa. Pronto, estamos num momento de festa onde podemos atualizar os votos e fazer ou refazer promessas.

De minha parte, como sempre atrasado, quero declarar meu desejo, não de renovar os votos feitos quando na juventude quando casamos. Na época eu falei o que o pastor me mandou falar. Esses votos são utópicos, são expressões de anseios de nossas esperanças. Nesse momento estamos com os hormônios à flor da pele. Não raciocinamos direito. Vamos falando o que nos disserem. Não pensamos nas lutas, nas dificuldades, nos desafios das diversas situações em que nem sabemos que nos meteremos.

Os altos e baixos da nossa história confirmam o que estou dizendo, né!

E o tempo foi passando. Você é consciente de tudo o que aconteceu durante todo esse tempo. Você decidiu, assim como eu, lutar por tudo aquilo que um dia sonhamos ainda que sem saber o peso de nossas falas e de nossas lutas.

Não foi fácil, mas quem disse que seria?

A pérola é um nome apropriado para nossa história.  Não se trata de um conformismo barato das relações passivas, mas sim de um re-significar de eventos onde se transforma o que é difícil desafio de superação. Isso é que aquilata a nossa relação. Acho que o que faz jus à nossa Boda de Pérola é que, de alguma forma escolhemos o caminho mais difícil, ou seja, o de seguir em frente em vez de seguir a trilha da sociedade líquida. Nossa relação não se mostrou líquida, mas sólida. Aprendemos a reinventar nossa história começada tão cedo. Você só tinha 18 anos e eu, 23. Aniversariamos no mesmo dia 29 de abril. Nosso sangue é o mesmo. Nossa história é nossa, não sua, também não é minha. Nosso amor, não é mais aquele. Nosso amor é bem mais maduro, bem mais sólido. O tempo e os eventos não foram capazes de destruí-lo no todo. Se houve alguma mudança, foi porque as nossas desilusões nos abriram espaço para nova dimensão de amor.

Meu amor, sou grato a Deus. Sou grato à vida. Sou grato a você por saber que a cada dia descubro no brilho de seu olhar a certeza de que não tenho que seguir sozinho. Você também não, eu estou do seu lado. Isso me enche de esperança e me faz sentir que seu coração está ao meu lado tanto quando seu corpo.

Mais uma vez quero declarar meu amor por você. Hoje mais do que antes, minha doce Cássia. Hoje declaro meu amor para os próximos 30 anos e novas pérolas.


Seu Josué

terça-feira, 12 de março de 2013

Direitos humanos e fé cristã

Imagem extraída de

É lamentável que, ainda hoje, não tenhamos evoluído ao ponto de garantir os direitos mais elementares a todas as pessoas. Não basta reconhecer tais direitos, é necessário efetivá-los, sem qualquer distinção. A expressão “direitos humanos” gera reações inexplicáveis em algumas pessoas, que, ao que parece, entendem que nem todos os humanos são destinatários dos tais direitos. Há, nesse ponto de vista, grupos de pessoas que não são merecedoras dos mesmos direitos das pessoas “direitas” e “bem nascidas” (como detesto essa expressão). É claro que tais pessoas são direitas sob o próprio ponto de vista.


Há uma dificuldade enorme de que aceitar as diferenças. Somos ainda tão primitivos que há nesse mundo discriminação por conta da cor da pele. Mas, evidentemente, em qualquer pesquisa que se faça, a maioria das pessoas diz que há racismo no Brasil, mas ninguém se reconhece racista. Preconceituoso é sempre o outro.


“É que Narciso acha feio o que não é espelho”, como canta Caetano. Assim, quem não professa a mesma crença é visto com desconfiança. Quem não tem o mesmo comportamento sexual é tido como abominação. Quem não adota o mesmo estilo de vida é torpe. Quem não tem a mesma convicção política é alienado. Quem não repete os mesmos dogmas é herege. O diferente está sempre errado.


Para além do elementar direito à vida e do sagrado direito à liberdade, é necessário avançar para igualdade. Mas a igualdade só será vivenciada quando os diferentes forem acolhidos, quando as diferenças não forem barreiras para a celebração da fraternidade.


Nossa Constituição Federal, em seu artigo 1º, lança como um dos fundamentos da República, o princípio da dignidade da pessoa humana. No artigo 3º, dispõe como objetivos fundamentais do país, “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, e ainda “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. No tão citado artigo 5º, arremata dispondo que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.


O texto fundante da nossa república afirma a igualdade e repele a discriminação de qualquer natureza. Por isso causa espécie que se queira negar direitos elementares a qualquer grupo de pessoas. Não me parece razoável que uma pessoa tenha negado o direito de constituir uma família por conta de sua orientação sexual, por exemplo, já que todos os brasileiros são iguais e não pode haver distinção de qualquer natureza.


Celebro, também, o fato de o texto fundante do cristianismo afirmar que “Deus não faz distinção de pessoas”. Mas lamento o fato de que muitos de seus seguidores discriminem de maneira tão contundente pessoas que não creem ou não vivem conforme suas crenças. Não preciso ter as mesmas crenças, nem adotar o mesmo comportamento que o outro para que o respeite. Mas não se pode negar direitos humanos fundamentais a quem quer que seja. Reconhecer esses direitos não quer dizer assumir o mesmo estilo de vida, mas apenas respeitá-lo.


Em tempos de celeuma por conta de direitos humanos, nunca é demais lembrar as palavras de um pastor, esse sim, verdadeiramente um defensor desses direitos, Martin Luther King Jr: “Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais”. Aspirou, tal pastor, o dia em que todas as pessoas, brancos e negros, pobres e ricos, judeus e gentios, católicos e protestantes “poderão se sentar junto à mesa da fraternidade”, sem qualquer distinção.


Texto de Márcio Rosa da Silva (marciorosa.wordpress.com)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

São poucos os que Enter


Metade dos cristãos digita os próprios comandos e pressiona a tecla Enter de Deus, na esperança de que ele comece a fazer magicamente o que querem. A outra metade digita os comandos de Deus e aperta a própria tecla Enter, na esperança de começar a fazer magicamente o que Deus quer.

A boa-nova, a assustadora boa-nova, é que Deus quer programadores, não usuários.

Ele espera que digitemos nossos comandos e apertemos nossa tecla Enter e ainda assim - com toda a responsabilidade, todo o risco e nenhuma mágica - produzamos um mundo que promova a graça (ou seja, a beleza, o cavalheirismo e a criatividade) e honre a herança de seu idealizador.


(Texto de Paulo Brabo extraído do livro que leva o mesmo nome de seu site www.baciadasalmas.comA Bacia das Almas - confissões de um ex-dependente de igreja. Pág. 311)