quarta-feira, 10 de março de 2010

PAZ E DESARMAMENTO


Li o livro UMA ÉTICA PARA O NOVO MILÊNIO do Dalai Lama e resolvi compartilhar alguns de seus pensamentos para que possamos refletir juntos.

Estou convencido de que a principal razão para as pessoas acharem que o caminho da não-violência é pouco prático deve-se ao fato de que parece não adiantar nada enveredar por ele, pois a sensação é de desânimo.
A paz não é algo que existe de modo independente de nós, a guerra também não. [...]. A paz do mundo depende da paz do coração das pessoas. O que, por sua vez, depende de todos nós praticarmos a ética, disciplinando nossas reações aos pensamentos e emoções negativos e desenvolvendo qualidades espirituais fundamentais.
Se a verdadeira paz é algo mais profundo do que um frágil equilíbrio baseado em mútua hostilidade, se em última análise depende da resolução de conflitos internos, o que dizer da guerra? Apesar de, paradoxalmente, o objetivo da maioria das campanhas militares ser a paz, na verdade a guerra é como um incêndio na comunidade humana, um incêndio cujo combustível são pessoas vivas. [...] Deixamos de reconhecer que a fria crueldade e o sofrimento são a verdadeira natureza da guerra.
A triste verdade é que fomos condicionados a encarar os procedimentos de guerra como algo excitante e até glamouroso: os soldados marchando com uniformes vistosos (tão atraentes para as crianças), com suas bandas militares tocando ao lado. Apesar de vermos o assassinato como algo terrível, não associamos a guerra com a criminalidade. Pelo contrário, a guerra é vista como uma oportunidade para as pessoas provarem a sua competência e a sua coragem. Falamos sobre os heróis que a guerra produz quase como se o heroísmo do indivíduo fosse medido pelo número de indivíduos mortos. E falamos sobre essa ou aquela arma como uma invenção tecnológica maravilhosa, esquecendo que será usada para mutilar e matar pessoas vivas. Seu amigo, meu amigo, nossas mães, nossos pais, nossas irmãs e nossos irmãos, você e eu. [...].
Mas, para que não se imagine que a paz depende apenas do desarmamento, cabe ainda lembrar que as armas não agem sozinhas. Apesar de serem inventadas para matar, não causam nenhum dano físico enquanto estão guardadas nos depósitos. Alguém tem que apertar o botão para lançar um míssil ou puxar um gatilho para dar um tiro. Não é nenhum “poder maligno” que faz isso. São os homens. [...].
É querer demais que todas as armas sejam eliminadas, pois, afinal, até nossos punhos podem ser usados como armas. E haverá sempre grupos de desordeiros e fanáticos para perturbar os outros. Temos que admitir que, enquanto existirem seres humanos, será necessário encontrar maneiras de lidar com os canalhas. Cada um de nós tem uma função a cumprir nessa questão. Quando nos desarmarmos internamente – refreando pensamentos e emoções negativos e cultivando qualidades positivas-, criamos condições para o desarmamento externo. A paz mundial genuína e duradora só será possível como resultado do esforço interno de cada um de nós.

Dalai-Lama (Uma ética para o novo milênio – Ed. Sextante. Págs 150-154)

Um comentário:

Sandra Lucia disse...

"A paz mundial(...)só será possível pelo resultado do esforço interno de cada um de nós."
Acredito nisto e baseio minhas aulas de Formação Humana nos princípios de ética desse ilustre mestre, é claro que valores humanos são apenas cultivados na escola, pois a essência de tudo vem de berço!