terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O servo e o soberano

Matutando comigo mesmo sobre a questão de servir a Deus, me lembrei que sou também um filho dele. Mas, como seria isso? Sou filho ou sou servo? Sou um servo que é filho ou um filho que serve? Sei lá! Uma coisa penso ser verdade. Não creio que me seja exigido uma obediência cega, ainda que leve em conta minha ignorância e sua soberania. Creio na soberania de Deus, mas não o vejo como os soberanos antigos (ou modernos), déspotas inatingíveis e inalcançáveis. Quando leio a bíblia percebo que Deus, consegue abdicar de sua soberania com o firme propósito de se colocar ao nível dos seres humanos, aliás, ele se rebaixa ainda mais e lava os pés de quem ama. E, a quem ele se recusa amar? Quando descubro isso como verdade libertadora, me vejo na condição de filho amado que se dispõe a servir. Não como um servo encabrestado. Apesar da preferência ou única condição (cabresto) de tantos, Deus não parece desejar ser servido à base da imposição ou à custa de cabresto. Deus não nos chama para sermos soldadinhos bem arrumadinhos que sabem do dever de obediência. Foi Jesus quem ensinou que deveríamos chamá-lo Abba, também disse que o Pai, melhor do que nós, sabe como tratar seus filhos. O que me faz obediente (quando o sou) não é o poder de sua soberania, mas o seu terno e doce amor que liberta. Falando nisso, não quero ser reconhecido como um servo de Deus como se isso fosse uma imposição de um soberano intocável, assentado em um trono esperando receber todo louvor e toda honra e toda glória. Prefiro ser percebido por aquele a quem posso chamar Abba-Pai e, percebendo-o como tal, me sentir livre para servi-lo. Vocês lembram do escravo de orelha furada amostrado no Pentateuco? Tal escravo tem em suas mãos a alforria que lhe garante a liberdade, o ser dono de seu nariz, cuidar de sua vida se lixando pro que acontece ou não na casa e ambiência de seu senhor. Mas, digamos que o sentimento e consciência do escravo fosse de que agora que conhece o valor da liberdade, se vê livre para poder servir. Ali estão as pessoas que fazem parte de sua história. Ali estão as pessoas caras de suas relações. Ficar em casa não seria ficar escravo, mas se ver livre para servir, o que equivale a amar. O amor exige por si esforço. A consciência do amor libera disposição para se doar. Foi isso que aconteceu (creio) no coração e cabeça de Jesus em relação ao Pai. E é isso que deve refletir em nossas relações com o Pai e com os outros. Então pega a sovela e fura a orelha, pois isso é sinal da voluntariedade e do despojamento de todas as individualidades. Também é sinal de não aceitar o comodismo da auto-suficiência. Pois quando sou livre para servir, a isso me proponho ou não. Feliz é aquele que se vê livre e, por ser livre serve. E, servindo, se parece mais com o Filho de Deus que não se aproveitando da glória do ser filho, serviu em amor até o fim, o que foi isso que o identificou como verdadeiro filho digno de toda honra.

2 comentários:

Sandra Lúcia disse...

Sabe, Jó, ando meio indignada com algumas posturas de quem vê Deus como soberano e implacável... também prefiro a leitura de um pai amoroso que me deixa livre pra servi-lo, se eu quiser...e eu quero! por amor, porque se fosse até por gratidão teria fim! Parabéns pelo texto maravilhoso!

Josué Oliveira disse...

Pois é, Sandra. A doutrina da soberania foi elaborada à base da idéia e visão dos imperadores déspotas que exploravam o poder diante dos escravos e plebeus com a ousadia que determinava quem teria a chance de viver ou quem teria a morte como determinante soberana. Isso é bem distante do Deus Pai de Jesus prefigurado na parábola do filho pródigo.