quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

MEU PAI, MEU HEROI!

 Sou o primogênito lá de casa. Eu ainda era criança quando meus pais trabalhavam numa fábrica de tecelagem. Sábado era um dia especial para ele e também para nós. Quando pedíamos algum dinheiro, a resposta do papai era sempre: “Só sábado!” Sábado era o dia em que ele recebia parte de seu salário.

 Eu amava quando o papai, no domingo me chamava para ir à feira comprar a galinha para o almoço do final de semana. Ninguém fazia uma galinha melhor do que a mamãe. A mesa ficava rodeada por todos nós e o papai sempre se sentava na ponta da mesa. Era o seu lugar.

 Já nesse tempo, o meu pai era sagradamente o nosso herói. Quem fazia as compras? Quem disciplinava a gente? Quem resolvia as broncas?

 Quando a mamãe dizia: “Vou contar a seu pai.”, mais do que o medo da disciplina, nós nos conscientizávamos da proporção do mal feito.

 Além de tecelão, meu pai fazia trabalhos de encanador hidráulico e serviços básicos de eletricidade. Eu me sentia grande quando ele me chamava para ajudá-lo.

 Ainda hoje gosto muito de uma expressão que costumava dizer: “Nem tudo é perfeito, mas tudo o homem pode aperfeiçoar!”.

 Ainda me lembro de quando em alguns serviços de eletricidade, na falta de uma escada, ele se punha sobre uma mesa e de repente eu ouvia: “Cuidado, não toque em mim, porque estou cheio de choque!”. Cara, meu pai era muito poderoso. Aguentava choque elétrico. Papai era sem dúvida meu herói.

 Mas fui crescendo e me emancipando. Precisava de espaço. Precisava seguir meu caminho. Com isso, ele não deixou de ser meu pai e nem eu deixei de me sentir seu filho.

 Nesse tempo eu já percebia que ele não era o “poderoso” que imaginava. Eu havia construído uma imagem mitológica. Mas é interessante lembrar que o encanto que tinha pelo meu pai não havia diminuído. Eu estava começando a me atualizar naturalmente em relação a meu pai.

 Eu precisei admitir a verdade de que meu pai não era o todo poderoso do jeito que imaginava. Pelo menos, não por suprir a casa junto à mamãe, nem por ser criativo, por trabalhar ou educar seus filhos. O suposto poder do meu pai não estava no fazer de pai, mas em ser PAI.

 Enquanto eu crescia e amadurecia, ele foi se revelando ou eu o fui percebendo humano com emoções, vontades, disposição para liberar seus filhos para viverem suas respectivas vidas.

 O papai não diminuiu em nada no meu conceito. O que aconteceu foi que ele me possibilitou dentro de meu amadurecimento a ver seu “poder” através de outras lentes. Meu problema estava no que entendia sobre ser poderoso ou ter poder. Não se constatava a falta de poder, mas no que consistia esse poder.

 Foi então que perdi o medo de me frustrar por sua suposta falta de poder. E, era isso que me fazia crescer e seguir adiante. Aquele que segurava na minha mão para que atravessasse a rua com segurança, agora me fazia perceber que eu podia acreditar no valor a mim legado. Eu podia caminhar com minhas próprias pernas.

 Gente, isso tem tudo a ver com a relação que tenho com Deus. Na bíblia, Paulo disse que quando era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino, mas, quando se tornou homem, ele passou a se comportar de acordo com o homem que se havia tornado. Nosso comportamento infantil não deixou de ser nossa história. De acordo com o tempo e o entendimento nesse tempo, tudo valeu a pena, valeu o feito, mas o tempo passa. Foi o que aconteceu, passou. A vida segue seu curso. O leque das percepções se abriu. As responsabilidades nos chama. E, nós vamos crescendo, nos atualizando e, vivendo novas realidades.

 A figura que fazia de Deus como uma entidade celestial com todo poder, que resolvia meus pepinos e que eu o chamava para dar um jeitinho para que fosse chamado no emprego e que me livrava de todos os acidentes, também não diminuiu ao perceber seu poder por outras lentes. Tal conceito de poder foi revisto. Com isso deixei de ver Deus de forma intervencionista personalizada para perceber a ação maravilhosa de Deus na nossa história que se concretiza à medida de nossa sensibilidade e amadurecimento. Foi em Jesus que entendi Deus no humano, sendo o verdadeiro humano; se mostrando bem humano.

 Para mostrar o quanto aposta no crescimento humano, Jesus disse: “Aquilo que faço hoje, vocês só compreenderão depois”. Depois quando? Na oportunidade de crescimento, sensibilidade e amadurecimento.

 Então, é maravilhoso perceber que Deus não foi diminuído na figura de Jesus. Na verdade, Ele foi evidenciado. Isso mostra o quanto Deus ama o humano e o quanto ele é a fonte de nossa divina humanidade. E, é assim que nos tornamos mais parecidos com o Pai, o meu, o nosso Pai herói.

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