sábado, 31 de julho de 2010

Meu Credo


Creio no que existe e no que me faz existir;
Creio em um Deus que vai além da minha condição, e me ama antes mesmo de ser amado;
Creio e somente creio;
Creio, e arrisco devaneios de minha mente sincera e discreta ao se apresentar;
Creio em direções e contradições que a vida revela;
Creio no outro como agente de um Deus Uno e Trino. Afinal eu sei todo ser humano. Pode ser um anjo[1];
Creio em mim e deixo de acreditar a cada erro;
Creio nos que acreditam em falhas;
Creio nas ações e reações do ser humano;
Creio no otimismo e o pratico com gentileza;
Creio que da solidão podemos encontrar certezas para viver a felicidade;
Creio nas condições de existência que eu mesmo criei;
Creio nos que professam verdades com humildade;
Creio no amor ao próximo como essência e existência do Cristianismo;
Creio em um Deus que dança. E ouso a descordar de Nietzsche[2];
Creio da dança como expressão do corporalidade;
Creio no ser mulher como expressão de sensualidade e amor;
Creio na sedução que fazemos e sofremos;
Creio e apenas creio na felicidade, que só é alcançada por aqueles que crêem nela;
Creio na vida e em sua infinitude. Afinal tenho valores e ações eternas;
Creio na eternidade, mas admito que a brevidade da vida me intriga a viver cada vão momento[3];
Creio no "Carpe diem"[4];
Creio nos amigos e em suas falha;
Creio na juventude e em sua eternidade expressa em fatos e ações;
Creio, e somente creio que a vida vale mais quando aprendemos a ser humanos;
Humanos que em demasia sofremos, choramos e morremos;
Creio nas altas gargalhadas como exorcista de uma alma ensanguentada pelo sofrimento;
Creio na verdade de ser mortal e ainda assim viver eternamente;
Creio tão somente creio que outros pensem diferente, que vivam diferente;
Creio na inspiração que tenho, e nas poesias que escrevo;
Creio na realidade das coisas que me rodeiam, e das que estão por ai;
Creio nas criaturas divinas e na condição de humanidade nos dada;
Creio no ser Humano como imagem de um Deus amoroso;
Creio na família e em sua essência de união;
Creio nos amores e desamores que me formam;
Creio do indizível, por seu mistério apropriado;
Creio em detalhes que as palavras não revelam;
Creio em verdades e mentiras que me revelam;
Creio e tão somente creio que viver é não ter vergonha de ser feliz [5], que meu credo não consiste em palavras e tradições, mas na existência preconizante que me transforma a cada dia.



[1] Trecho da música Téo e a Gaivota, de Marcelo Camelo.
[2] Fazendo menção da frase de Friedrich Nietzsche: “Eu somente acreditaria em um Deus que soubesse dançar”.
[3] Citando Vinícius de Moraes. Soneto na Fidelidade.
[4] Frase em latim que significa: aproveite o dia.
[5] Parafraseando Gonzaguinha em sua música, O que é, o que é?

OBS: Extraído do blog da jujuba: jujuba-pensoeescrevo.blogspot.com

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cultura de Massa


À maneira da... Seguridade Social

O contínuo do INSS estava satisfeito, assobiando feliz, em sua cozinha suburbana, preparando carnes e temperos pruma macarronada que oferecia, nesse domingo, aos amigos. De repente, a mulherzinha dele, ao entrar na cozinha, reparou que ele estava escondendo uns pacotes de macarrão atrás da geladeira.
- Pra que você está escondendo esse macarrão? - perguntou a mulherzinha.
– Não é nosso? Não foi comprado com nosso dinheiro?
O contínuo respondeu apenas:
- Treinando.

MORAL: NINGUÉM SOBE SEM NOURRAU.

OBS: Extraído de Fábulas Fabulosas do jornalista Millô Feranandes.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Entulharam teu poço? Cave outro.


Vocês já leram o texto de Gênesis 26.12-28? Veja que coisa chata. Isaque recava os poços herdados de seu pai (Abraão) e os invejosos filisteus os reentulham com areia. O chato é que os nomes dos poços, por si já contavam a história: o primeiro se chamava Eseque (do hb. Contenda), Sitna (do hb. Inimizade).
A beleza dessa narrativa nos promove boas lições que poderão ser relevantes quando encaradas de forma séria em nosso contexto de lutas diárias.
Assim como toda aquela gente, temos as nossas lutas. Cavamos nossos poços para obter água como possibilidade de saciar a nossa sede símbolo de nossas carências. Assim como aquela gente, lutamos e sonhamos esperando que as coisas dêem certo.
O desejo de produção é natural, por exemplo: - nos alimentamos pra ficar fortes; - trabalhamos para produzir; - estudamos para aprender a produzir melhor. Ou seja, a produção exige trabalho e o trabalho dignifica o homem.
Gosto do texto da Bíblia de Jerusalém que diz assim: “Isaque semeou naquela terra e, naquele ano, colheu o cêntuplo. Iahweh o abençoou e o homem se enriqueceu, enriqueceu-se cada vez mais, até tornar-se extremamente rico”. E, se observarmos a sequencia dos verbos (semear, colher, abençoar, enriquecer, tornar), podemos entender que uma vida abençoada está diretamente entrelaçada pelo trabalho do homem em parceria com Deus. O homem semeou e colheu sob a bênção de Deus.
O livro de Eclesiastes que nos incentiva a tirar os olhos da produção do trabalho para curtir essa produção (Ec 9.7-10). O sábio tem razão, pois tanta gente se esmera no trabalho, produz tanto, mas não se delicia nesse fruto de seu trabalho. Talvez seja por isso que algumas pessoas que se tornaram desnecessárias em suas próprias casas por causa do azedume contraído pelo obcecado trabalho. O trabalho não pode tomar o tempo necessário do diálogo, lazer e afeto. O trabalho é bênção e não como mal. É dom divino e não caminho de amarguras relacionais, como se a única coisa com importância fosse o fruto do trabalho. Então, minha gente, não deixemos que o nosso trabalho se transforme em via de escape de nossas próprias inabilidades para com quem amamos.
Mas, (in)felizmente, no trabalho, nem tudo é tão fácil. Já pensou! A gente planeja, luta, trabalha para conquista algo, consegue “cavar um poço” e, vem um gaiato e entulha! Dá pra você? Você já teve essa experiência de cavar um poço e vir alguém e entulhá-lo? Conquistar um espaço, uma posição, uma aquisição e, encontrar um invejoso que vem carregado de negatividade e, de forma aberta ou dissimulada luta para arruinar seu sonho, conquista, realização? Para quem não sabe, o objeto de inveja que é tirado não serve para o invejoso. A luta do invejoso é sempre inglória.
A questão de Pv 27.4 (“..., mas quem consegue suportar a inveja?”) nos faz compreender como a inveja faz mal. Com a inveja os laços se destroem. Alguns personagens bíblicos foram alvos de inveja. Abel foi morto por seu próprio irmão, Abraão e Isaque tiveram seus poços entulhados, José foi vendido por seus próprios irmãos, Moisés e Arão foram invejados pelos filhos de Coré, Davi foi invejado por Saul por causa da receptividade do povo, Jesus foi alvo de inveja pelos sacerdotes diante de Pilatos, etc. Com a inveja, até o fruto invejado parece perder o sabor. A Bíblia nos convida a servir “uns aos outros”. O mundo precisa ver em nós pessoas diferentes que buscam produzir o bem ao próximo.
Em Pv 14.30, o sábio nos aponta dois caminhos antagônicos:o caminho da inveja que “apodrece os ossos” e o caminho de um “coração em paz” que gera “vida ao corpo”. Cada um de nós precisa administrar seu sentimento de forma que assuma as conseqüências dessas escolhas: Inveja ou paz. Eu já fiz a minha escolha!
Outra coisa, quem entulha o poço alheio deseja vê-lo desistir de lutar, mas você não tem que reagir de acordo com essa expectativa. O invejoso trabalha espera que você desista, espera que você saia da esfera de sua insegurança. O invejoso povo filisteu entulhou os poços de Isaque na tentativa de forçá-lo a sair de suas cercanias geográficas, mas ele não cedeu a essa expectativa, antes continuou cavando, o problema é que na sua teimosia, cavou os mesmo poços. Você se lembra dos nomes com significados de contenda, inimizade? Pois é, a verdade é que nem sempre as coisas que perdemos voltam a ser nossas, mas e daí? Se a expectativa do invejoso é me derrubar, ele nem imagina que posso ver nessa luta contrária a mim, uma motivação que pode me tornar mais forte, mais resistente e mais corajoso. Só não devo é colocar os mesmos nomes que me remetem a maldade antiga, mas buscar outras alternativas que me garantam possibilidade de mudança pra melhor. Foi o que Isaque acabou fazendo, ele cavou novo poço em um vale e achou água boa e lhe deu um nome significativo: Reobote, que é alargamento, espaços livres. Essa bela narrativa nos motiva a seguir em frente apesar das tentativas dos invejosos.
Vocês conhecem a ilustração do cachorro que foi atropelado e dado como morto? Pois é, algumas pessoas o colocaram numa vala e começaram a jogar areia para enterrá-lo, mas o cachorro não estava morto e acordou com a areia entrando por suas orelhas. Ele sacudiu a areia que acabou se tornando um batente para escapar de ser enterrado vivo.
Isso pode ser bem parecido com nossas dores quando jogam areia em nossos sonhos, entulham nossos poços, mas que temos ai a possibilidade de sairmos exatamente usando nossa coragem de enfrentar a areia que nos jogam. Somos e devemos nos ver como mais forte do que aquilo que nos fazem de mal. Quem sabe é para mim e para você hora de levantar a cabeça, sacudir a poeira e dá volta por cima, né?

terça-feira, 15 de junho de 2010

O HOMEM E SUA LIBERDADE CRIADORA


Repasso aqui parte da minha leitura do Dominique Morin em: "Deus existe?"

Durante muito tempo, pensou-se que Deus, do alto do céu, dominava o mundo e o “governava” a sua maneira. Passado, presente, futuro, tudo lhe pertencia. Ele sabia tudo, via tudo, dirigia tudo, tudo previa.
Essa maneira de encarar a ação de Deus no universo e em nossas vidas nos deixa hoje espantados. Deus não é um tirano que dirige tudo segundo suas conveniências. Ele confiou ao homem o mundo, para que aí ele viva em toda liberdade, criador de as própria história.
O homem não está sob o império de um Deus todo-poderoso, de quem seria servo e escravo. Um Deus que viria suprir as deficiências de sua existência ou as falhas de seu conhecimento. Um Deus que consolaria na infelicidade, no sofrimento e na morte, poupando-lhe de assumir suas responsabilidades.
O Deus revelado por Jesus Cristo é profundamente respeitoso do homem, de sua justa autonomia, de sai responsabilidade pessoal. Longe de querer dirigir tudo, Deus convida o homem, ao contrário, a encontrar por s mesmo os meios que o levariam à realização mais perfeita possível de suas faculdades criadoras.
Isso não quer dizer que Deus esteja desinteressado do mundo (ou que o homem deva se desinteressar de Deus), mas simplesmente que Deus permite que o homem dirija sua própria existência.
Para os cristãos, o homem se situa numa história na qual ele e Deus são ao mesmo tempo criadores e atores. Nesse novo contexto, abre-se um imenso campo de possibilidades. Ele se torna criador de seu futuro. Deus quis associá-lo a sua obra criadora par ressaltar sua própria criação. A responsabilidade do homem é, portanto, enorme: é a sua criação que dá sentido à história.
[...]
O futuro de Deus e o futuro do homem são, pois, inseparáveis, sem que isso seja um constrangimento alienante para o último. Deus dá ao homem os meios de se realizar totalmente, visto que o ama como pai e que seu poder é um poder de amor.
(extraído do livro “Deus existe?” de Dominique Morin. Ed.Loyola. págs 39-41)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

SURGIMENTO DE UMA SOCIEDADE ALTAMENTE CONSUMISTA


O consumismo está ligado à Revolução Industrial e ao poderio da produção em massa. No início da Revolução Industrial, os empregadores viam os empregados apenas como produtores de mercadorias. Porém, uma sociedade voltada para a produção em larga escala precisa dispor de um amplo mercado consumidor. Para aumentar a demanda de consumo, criou-se uma relação entre as commodities – itens de consumo que possibilitam status e prestígio – e a identidade. Como pontua o economista e sociólogo norte-americano Thorstein Bunde Veblen, no livro A Teoria da Classe Ociosa, o consumo, além de satisfazer necessidades, indica riqueza, funcionando imediatamente como evidência de status e prestígio, o que enaltece o eu do consumidor. O melhor meio de se obter um aumento do consumo é pela propaganda, pois além de trazer informações sobre produtos, ela promove um estilo de vida, criando assim um novo produto – o consumidor.na opinião de vários sociólogos,filósofos e economistas, é assim que a sociedade molda nossas escolhas, preferências e desejos. A sociedade é construída em função dessa premissa, centrada no eu, que por estar sempre em busca de compensações é facilmente seduzido pelas propostas que recebe. O eu cai então em um vazio existencial, tentando satisfazer seus anseios por meio de uma tetralogia niilista construída de hedonismo, consumismo, permissividade e relatividade.
A conclusão que chegamos é que a sociedade contemporânea se caracteriza por uma valorização do comportamento hedonista, com a busca do prazer aqui e agora, oposto à ascese religiosa, colaborando para o desenvolvimento de tipos narcisistas e egoístas de personalidade. Enfim, o consumismo se torna um elemento fundamental para o eu moderno construir sua identidade. O principio de Descartes – “penso, logo existo” – para a ser “compro,logo existo”.
[...]O consumismo é preocupante também entre os cristãos. Ao valorizar a aquisição de bens, a teologia da prosperidade transmite a idéia de que, se a pessoa está em Cristo, ela pode consumir, como demonstra o sociólogo da religião Ricardo Mariano. A máxima de Descartes, que havia passado para “compro, logo existo”, passa a ser agora “oro, logo adquiro”, ou “determino, logo compro”! Seja como for, a ênfase está no eu narcisista e não na fé cristã genuína. Em relação a esse tipo de consumismo narcisista entre os cristãos, o que percebemos é que o mundo evangélico brasileiro está se tornando um mercado específico.


Por Cláudio Antônio Cardoso Leite - retirado do Livro: "FÉ CRISTÃ E CULTURA CONTEMPORÂNEA" da editora Ultimato (págs. 198-200).

sexta-feira, 30 de abril de 2010

OS DESAFIOS DO SAGRADO


Deus é um contador de história, ou se preferir, estória. Falo assim porque a cada história dá-se a oportunidade ou desafio de mudança. O Espírito é dinâmico e como tal nos motiva a funcionar, a nos mover na vida e sempre na pretensão de crescer.
Não é difícil ver o Deus da Bíblia presente em Jesus e em cada história de seus amados. Essas composições bíblicas nos aproximam da realidade do Emanuel (Deus conosco) presente também em nossos eventos rotineiros.
Assim como Jesus se aproxima dos barcos dos pescadores (Lc 5.1-11), se aproxima de nossa realidade de vida e em nosso ambiente de trabalho e relacionamentos. Isso é verdade, por mais que esses eventos estejam carregados de desventuras, assim como aqueles pescadores desventurados que passaram a noite pescando e agora estavam lavando as redes sujas resultado de uma noite de pescaria sem pescado.
Caminhando por esse texto penso nos possíveis desafios da parte de Deus que nos quer bem. Esse Deus na pessoa de Jesus deseja ardentemente nos promover a uma vida de crescimento e, penso que dá pra gente tirar algumas conclusões de como isso acontece, não como regra, mas como possibilidade:

Em primeiro lugar somos desafiados a abrir espaço para que o sagrado se manifeste. Logo nos primeiros versículos de Lc 5 vemos Jesus sendo pressionado por uma multidão ávida por uma palavra de sua boca. O que Jesus faz? Entra em um dos barcos (o de Simão) e pede para que o afaste para que de lá ensine ao povo. Ora, a carência de se ouvir uma palavra é evidente, bem como a carência de espaço para o sagrado em muitos ambientes e níveis da história humana. Há carência de abertura de espaço em muitas ambiências universitárias, empresas dentre tantas. O que aconteceu com Simão foi um desafio a abrir espaço para que uma palavra de esperança soasse de forma abençoadora. Isso aconteceu de dentro de um barco cuja história foi inglória. Até parece que Deus escolhe os mais carentes para, a partir daí trabalhar sua bondade e esperança. Simão foi testemunha da palavra de esperança para aquela multidão. Foi ele quem abriu esse espaço e de lá a palavra surgiu.

Em segundo lugar o desafio passa da abertura do sagrado aos outros para a abertura para o sagrado de forma mais particular. Veja que há um monte de gente que abre espaço para sagrado para o filho lhe indicando a agenda de uma igreja ou incentivando à oração e leitura da Bíblia. Alguns maridos chegam a lembrar à esposa da agenda de um evento da igreja, vai deixá-la na igreja ou em um evento sagrado fora do templo. O problema é que essa abertura vai abençoar ao outro assim como Simão abençoou a multidão. Isso garante o sagrado para os outros enquanto, apesar de se conquistar um possível título de amigo do bem, do sagrado ou do evangelho, esse é um envolvimento indireto (para os outros) e não direto (para si mesmo). Lucas disse que Jesus se dirige diretamente a Simão, lhe chamando pelo nome lhe pedindo um envolvimento de abertura do sagrado para seu nível pessoal. No termo: “Simão, vá para as águas mais fundas” está inserido a proposta de um envolvimento pessoal. Uma oportunidade de abertura de coração para o sagrado. Isso indica que na relação com o sagrado, o marido, tanto quanto a sua esposa deve ser desafiado a abrir espaço para o sagrado. Assim, os pais devem abrir espaço para o sagrado também para eles. Não é, “faça o que eu digo que é melhor para você”, mas, “façamos todos, nos envolvamos com o sagrado que é melhor para todos nós”. É importante ter a mesma agenda relacionada ao sagrado e todos participarem da fé individual e comunitária.

Em terceiro lugar há o desafio de conhecer a pessoa de Jesus mais do que os conceitos sobre ele. Veja que o versículo 5 diz que Simão respondeu a Jesus: “Mestre, nós nos esforçamos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes”. Logo mais Simão se tornará discípulo de Jesus, mas nesse momento ainda não é. Ele reconhece Jesus como “Rabi” ou “Mestre” e, por isso lhe obedece. É como se dissesse: “Mestre, quem é pescador aqui somos nós. E, como tais, passamos a noite tentando e nada pegamos, mas como sabemos que és mestre, e como tal te reconhecemos, faremos o que nos diz, afinal, todo judeu deve obediência aos mestres”. Então, eles obedeceram Jesus, não por imaginar a possibilidade de uma pesca lucrativa, nem por serem discípulos (ainda não são), mas como obedientes culturais aos mestres. Enfim, quando lançam as redes, tomam um baita de um susto quando percebem a maravilha da pescaria. É então que Simão percebe que Jesus é mais do que um simples mestre que exige obediência. Esse Jesus é alguém especial. Para Simão, Jesus agora é reconhecido, mais do que como a uma divindade, como a uma deidade. Ele é Deus. É por isso que se dobra a essa revelação e diz: “Afasta-te de mim, não sou digno... sou um pecador”. Isso nos diz que quando descobrimos em nosso coração quem é Deus, descobrimos também quem somos. Agora Simão, bem que poderia escrever um livro de “auto-ajuda” sobre “como se tornar um sucesso na pescaria, segundo Jesus”. Na verdade, ele percebe que conhecer Jesus é bem melhor que aprender algo sobre ele. Nosso desafio é mais do que seguir o exemplo do mestre. É reconhecê-lo como é em sua deidade. Então, mais do que apontar o caminho, ele quer ser o caminho; mais do que apontar a verdade, ele quer ser reconhecido como a verdade; e, mais do que apontar a vida, ele deseja ser sua vida.

Por fim, o próximo desafio é viver uma nova dimensão de vida. Os versículos 10 e 11 falam desse desafio: “Simão, não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”. Eles então arrastaram seus barcos para a praia, deixaram tudo e o seguiram. Por “nova dimensão” digo do desafio e da beleza de, diante de toda essa experiência com o sagrado, viver um novo sentido de vida dentro da realidade de sua história e de todos os eventos comuns (pescaria, no caso de Simão). É o mesmo que dizer: “Sê tu uma bÊnção!”. Seja uma bênção em seu trabalho e faça dele uma bênção! Faça de seu novo estilo de vida uma oportunidade de abençoar e promover o bem para que pessoas sejam alcançadas pela bondade de Deus. Veja que quando eles deixaram tudo e o seguiram, não o fizeram de forma irresponsável, mas que todo o reconhecimento de riqueza teria novo sentido. A bênção, mais do que o sucesso no trabalho, seria a beleza de contar com Deus em todo o processo de vida.

Esse é nosso desafio como filhos e filhas de Deus. Tudo se torna secundário diante da presença de Deus em nossas vidas. A maior riqueza de vida está na caminhada com esse Deus que se revela no nosso barco, ainda que em desventura, mas com a possibilidade de transformação total e abençoada tanto como abençoadora. Esse é um novo sentido de vida que transforma um coração amargurado pelas desventuras da vida em novas e tremendas possibilidades que ultrapassam os conceitos de sucesso mundano e triunfalista. Claro que é bom ter dinheiro, bens, etc., mas nada como em todo processo de vida podermos perceber Deus e sua bondade transformadora.

Josué