terça-feira, 13 de julho de 2010

Entulharam teu poço? Cave outro.


Vocês já leram o texto de Gênesis 26.12-28? Veja que coisa chata. Isaque recava os poços herdados de seu pai (Abraão) e os invejosos filisteus os reentulham com areia. O chato é que os nomes dos poços, por si já contavam a história: o primeiro se chamava Eseque (do hb. Contenda), Sitna (do hb. Inimizade).
A beleza dessa narrativa nos promove boas lições que poderão ser relevantes quando encaradas de forma séria em nosso contexto de lutas diárias.
Assim como toda aquela gente, temos as nossas lutas. Cavamos nossos poços para obter água como possibilidade de saciar a nossa sede símbolo de nossas carências. Assim como aquela gente, lutamos e sonhamos esperando que as coisas dêem certo.
O desejo de produção é natural, por exemplo: - nos alimentamos pra ficar fortes; - trabalhamos para produzir; - estudamos para aprender a produzir melhor. Ou seja, a produção exige trabalho e o trabalho dignifica o homem.
Gosto do texto da Bíblia de Jerusalém que diz assim: “Isaque semeou naquela terra e, naquele ano, colheu o cêntuplo. Iahweh o abençoou e o homem se enriqueceu, enriqueceu-se cada vez mais, até tornar-se extremamente rico”. E, se observarmos a sequencia dos verbos (semear, colher, abençoar, enriquecer, tornar), podemos entender que uma vida abençoada está diretamente entrelaçada pelo trabalho do homem em parceria com Deus. O homem semeou e colheu sob a bênção de Deus.
O livro de Eclesiastes que nos incentiva a tirar os olhos da produção do trabalho para curtir essa produção (Ec 9.7-10). O sábio tem razão, pois tanta gente se esmera no trabalho, produz tanto, mas não se delicia nesse fruto de seu trabalho. Talvez seja por isso que algumas pessoas que se tornaram desnecessárias em suas próprias casas por causa do azedume contraído pelo obcecado trabalho. O trabalho não pode tomar o tempo necessário do diálogo, lazer e afeto. O trabalho é bênção e não como mal. É dom divino e não caminho de amarguras relacionais, como se a única coisa com importância fosse o fruto do trabalho. Então, minha gente, não deixemos que o nosso trabalho se transforme em via de escape de nossas próprias inabilidades para com quem amamos.
Mas, (in)felizmente, no trabalho, nem tudo é tão fácil. Já pensou! A gente planeja, luta, trabalha para conquista algo, consegue “cavar um poço” e, vem um gaiato e entulha! Dá pra você? Você já teve essa experiência de cavar um poço e vir alguém e entulhá-lo? Conquistar um espaço, uma posição, uma aquisição e, encontrar um invejoso que vem carregado de negatividade e, de forma aberta ou dissimulada luta para arruinar seu sonho, conquista, realização? Para quem não sabe, o objeto de inveja que é tirado não serve para o invejoso. A luta do invejoso é sempre inglória.
A questão de Pv 27.4 (“..., mas quem consegue suportar a inveja?”) nos faz compreender como a inveja faz mal. Com a inveja os laços se destroem. Alguns personagens bíblicos foram alvos de inveja. Abel foi morto por seu próprio irmão, Abraão e Isaque tiveram seus poços entulhados, José foi vendido por seus próprios irmãos, Moisés e Arão foram invejados pelos filhos de Coré, Davi foi invejado por Saul por causa da receptividade do povo, Jesus foi alvo de inveja pelos sacerdotes diante de Pilatos, etc. Com a inveja, até o fruto invejado parece perder o sabor. A Bíblia nos convida a servir “uns aos outros”. O mundo precisa ver em nós pessoas diferentes que buscam produzir o bem ao próximo.
Em Pv 14.30, o sábio nos aponta dois caminhos antagônicos:o caminho da inveja que “apodrece os ossos” e o caminho de um “coração em paz” que gera “vida ao corpo”. Cada um de nós precisa administrar seu sentimento de forma que assuma as conseqüências dessas escolhas: Inveja ou paz. Eu já fiz a minha escolha!
Outra coisa, quem entulha o poço alheio deseja vê-lo desistir de lutar, mas você não tem que reagir de acordo com essa expectativa. O invejoso trabalha espera que você desista, espera que você saia da esfera de sua insegurança. O invejoso povo filisteu entulhou os poços de Isaque na tentativa de forçá-lo a sair de suas cercanias geográficas, mas ele não cedeu a essa expectativa, antes continuou cavando, o problema é que na sua teimosia, cavou os mesmo poços. Você se lembra dos nomes com significados de contenda, inimizade? Pois é, a verdade é que nem sempre as coisas que perdemos voltam a ser nossas, mas e daí? Se a expectativa do invejoso é me derrubar, ele nem imagina que posso ver nessa luta contrária a mim, uma motivação que pode me tornar mais forte, mais resistente e mais corajoso. Só não devo é colocar os mesmos nomes que me remetem a maldade antiga, mas buscar outras alternativas que me garantam possibilidade de mudança pra melhor. Foi o que Isaque acabou fazendo, ele cavou novo poço em um vale e achou água boa e lhe deu um nome significativo: Reobote, que é alargamento, espaços livres. Essa bela narrativa nos motiva a seguir em frente apesar das tentativas dos invejosos.
Vocês conhecem a ilustração do cachorro que foi atropelado e dado como morto? Pois é, algumas pessoas o colocaram numa vala e começaram a jogar areia para enterrá-lo, mas o cachorro não estava morto e acordou com a areia entrando por suas orelhas. Ele sacudiu a areia que acabou se tornando um batente para escapar de ser enterrado vivo.
Isso pode ser bem parecido com nossas dores quando jogam areia em nossos sonhos, entulham nossos poços, mas que temos ai a possibilidade de sairmos exatamente usando nossa coragem de enfrentar a areia que nos jogam. Somos e devemos nos ver como mais forte do que aquilo que nos fazem de mal. Quem sabe é para mim e para você hora de levantar a cabeça, sacudir a poeira e dá volta por cima, né?

Nenhum comentário: