terça-feira, 24 de agosto de 2010

LIÇÕES DO ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA (João 4)


(Imagem de ailtonpastor.blogspot.com.br/Carvalho de Justiça/Artista plástico)

Grande texto aquele narrado no evangelho de João capítulo quatro que fala do encontro de Jesus com uma “mulher samaritana”, né? Fico pensando no quanto, assim como aquela mulher, sofremos nossos dilemas espirituais e como é possível sermos restaurados por Jesus.
Há quem diga que o poço do encontro ficava nas redondezas da cidade de Sicar (em Samaria), e o horário do meio dia não era conveniente para alguém ir buscar água, isso demonstra que aquela mulher estava com sérios problemas de ordem pessoal e social. Quem sabe, seria por causa de seu histórico de haver passado por cinco relacionamentos e, pior, o atual era socialmente condenável! É chato, mas muitas pessoas vivem os mesmos dilemas. São pessoas que são estereotipadas pelo currículo de desencontros. Muita gente não consegue manter um relacionamento e acaba se percebendo e sendo apontada como descartável. Imagine essa situação no primeiro século de nossa era. Pois é, pior é que, não muito diferente daquele tempo, nosso machismo ainda impera e muitas mulheres sofrem a pecha do preconceito quando o relacionamento não dá certo. Esse preconceito e silente culpabilidade nutrem no comportamento das mulheres um azedume desmedido que grita como fuga esquivante na possibilidade de ser ferida novamente. “Como tu, sendo judeu, me pede água?”.
Ela não consegue ver uma pessoa do sexo masculino sedento, mas, quem sabe, mais um a se aproveitar de sua situação fragilizada e em plena solidão do lugar. Mas, que bom que ali estava o (um) verdadeiro filho de Deus que não se aproveitou do ambiente facilitador para um flerte, antes viu uma possibilidade de contribuir com sua cura de alma. Esse comportamento de Jesus em contribuir para uma nova percepção de vida deve ser também o nosso comportamento – produzir vida e possibilidade de renovo nas pessoas que percebemos como alvo da misericórdia divina.
Sim, por que será que Jesus se refere a “água viva”?
Jesus está certo de que aquela mulher precisa de ajuda. A mulher busca a água (do poço) numa percepção diferente da dele. Ele precisa de água pra matar a sede física, e ela pra resolver seu problema interior (espiritual). Perceba que quando ele usa a expressão “água viva” ela reage fazendo apologia a possível força mística da água do poço. Numa paráfrase poderia ser assim: “O senhor quer dizer que tem água mais poderosa do que essa? O senhor sabe quem cavou esse poço e quem bebeu dessa água? Foi o pai Jacó, o patriarca da aliança”. Ao que Jesus replica: “Olha minha cara senhora, note que com todo esse poder místico, você continua com problema relacional. A verdade é que seu problema é outro e qualquer tentativa de busca nos termos místicos dessa água é apenas paliativa. Você já teve cinco tentativas frustradas e já está se envolvendo pela sexta vez e seu coração está indo de mal a pior”.
Igual aquela mulher nutrimos a mesma idéia de vincular a resposta aos nossos anseios mais profundos a um poder místico tangível. Esoterismo verificável no uso de sal grosso, velas, flores, altares, imagens, tapetes, óleo (de preferência com o rótulo de Israel), etc.
A mulher diz: “Tá bom, pois me dê dessa água e meu problema se resolve”. Veja que esse estágio nos lembra de como somos pobres em nossas percepções e como nossa ansiedade por solução nos torna frios diante de Deus. Queremos as mãos de Jesus, seus benefícios, mas ainda não percebemos que há uma busca mais nobre do que a possível força do braço de Deus – o seu coração relacional. Jesus se revela a mulher lhe mostrando o quanto quer se envolver em seus dilemas mal resolvidos. A situação pode sim encontrar resposta num encontro com Deus, mas a beleza está no processo de restauração que admite, inclusive não ter resposta concreta pra esses dilemas. O texto termina nada revelando sobre o desfecho de seu relacionamento, e nem precisa, pois, mais do que a resposta para um problema em qualquer segmento de nossa vida (conjugal, financeiro, etc.) o que nos incomoda é a ausência de quem nos sacia a sede da alma. Quando temos essa sede (que é confundida com questões físicas) somente Deus nos compreende e nos valoriza. Outra coisa, pessoa, objetos sagrados apenas nos são paliativos.
“Falando em sede espiritual, me diga de onde Deus responde orações, onde se pode adorá-lo ou onde se encontra Deus?” pergunta a mulher a Jesus. E, logo ele responde com maestria dizendo que Deus é Espírito e como tal que ser encontrado. O que me chama a atenção em Jesus é que ele, diferente de nós, ele não indica o caminho de uma religião particular onde Deus pode ser encontrado. Não houve proselitismo em sua conversa com a mulher. Ele deixa claro que como Deus é Espírito, não cabe em nenhuma religião. Não cabe em nenhuma cartilha religiosa. Deus não é propriedade privada de nenhuma religião ou igreja. De acordo com Jesus ele, Deus espera encontrar pessoas sinceras em sua fé, o percebendo nos encontros “casuais” com quem antes de levantar a bandeira de uma religião ou denominação, se é que precisa, levanta a proposta de restauração do ser como tal. Deus, segundo Jesus, procura encontrar pessoas que o adorem em espírito e em verdade. Talvez dizendo que devam viver sua fé com razão.
A mulher samaritana vê em Jesus um profeta, aliás, um vidente – alguém com capacidade de ver o que não está às claras. Era assim que os profetas antigos eram conhecidos. Outra coisa, aquela mulher entende que há um sonho utópico de que no final, tudo se resolve. Nos termos do texto ela diz: “Eu sei que o Messias (chamado o Cristo) virá”. Gente, por que nossa visão é tão embaçada e não conseguimos enxergar o que está diante de nós. Jesus disse tantas vezes e com tanta firmeza que o reino de Deus, também conhecido na bíblia como reino dos céus, ou na expressão joanina “vida eterna” já é uma verdade aqui e agora? Está claro que Jesus declarou àquela mulher que a vida, o sonho, a realidade da reconciliação não deve ser esperada, mas vivida no hoje, no já. Não digo que o futuro não aguarda grandes surpresas, mas vejo em Jesus a realidade do hoje. Então, não deixe pra viver a vida plena amanhã, mas hoje, senão você acaba se acostumando a viver o adiamento de seus sonhos.
Não dá pra ficar da mesma forma depois de tanta revelação. Algo lindo está acontecendo em seu interior. E como ela reage bem! Aquela mulher que praticamente recheada de medo da sociedade que lhe aponta o dedo, agora volta e sem temor fala sobre sua nova experiência. Numa paráfrase seria assim sua mensagem na cidade que havia sido o palco de seu sofrimento: “Venham, conheçam Jesus. Ele vê nosso sofrimento e nos dirige ao caminho de restauração”. E, como teve fruto essa sua experiência repassada na sua comunidade. Eles acabam conhecendo Jesus e declarando também haver tido experiências próprias com ele.

4 comentários:

Carvalho de Justiça disse...

esse quadro é uma pintura minha, seria bom que o irmão fizesse a citação. (mulher samaritana - de ailton pastor)

Carvalho de Justiça disse...

essa pintura usado no blog é uma pintura minha, gostaria que o irmão colocasse a citação. ailton pastor.

Anônimo disse...
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Josué Oliveira Gomes disse...

Caro, Ailton pastor (Carvalho de Justiça), realmente usei uma imagem que ficou difícil saber a origem, talvez por estar em diversos blogs (basta clica na imagem no google e ver detalhes da imagem). Com sua chamada de atenção, vou aproveitar para tentar rever as outras imagens. Peço desculpas e vou reparar meu erro.