domingo, 26 de dezembro de 2010

PORQUE FIZ AS PAZES COM PAPAI NOEL


(Texto originalmente de Hermes Fernandes no seu blog: http://www.hermesfernandes.com/2010/12/porque-fiz-as-pazes-com-o-papai-noel.html)



Acabo de chegar de uma cantata numa igreja hispana em Deltona, Florida. Devo admitir que aprecio muito a atmosfera natalina. Gosto de ver as casas enfeitadas, os shoppings lotados, o corre-corre, a mesa farta, a troca de presentes, e até… o Papai Noel. Isso mesmo que você acabou de ler. Sou fã do bom velhinho. Tive minhas desavenças com ele anos atrás, pois julgava que estava usurpando o lugar de Cristo. De um tempo pra cá, fiz as pazes com o velho Noel. Antes que alguém me esconjure, deixe-me explicar.


Gosto de ver as casas enfeitadas, porque nesta época do ano elas se tornam mais aconchegantes. Os olhos da criançada brilham enquanto vêem a mãe enfeitando a árvore com penduricalhos e pisca-pisca. Quem não tem uma boa lembrança da infância quando chega este período do ano? Aqui nos Estados Unidos dá pra gente saber quem é cristão ou não pela maneira como a casa é decorada para o Natal. Geralmente, enchem-nas de pisca-piscas ao redor da casa, luzes coloridas, presépios, bonecos de neve, veados e alces, trenós, etc. Quando uma casa não é enfeitada, presume-se que ali more uma família judia, ou hinduísta, ou de qualquer outro credo, ou mesmo, sem credo. As casas iluminadas contagiam a vizinhança de um clima de celebração. Aqui em casa reunimos os filhos para ajudar na decoração. Esta semana, enquanto eu e Tânia armávamos o pinheiro de natal, lembrei-me de que foi o grande reformador Martinho Lutero quem começou esta tradição. As bolas representavam o fruto do Espírito Santo. O pinheiro foi escolhido porque é a única árvore a sobreviver à estação do inverno nos países onde ele é mais rigoroso sem perder a folhagem.


Por que gosto de ver os shoppings lotados? Não seria isso um culto ao consumismo? Que tal deixarmos um pouco o radicalismo de lado? Primeiro, por conta da explosão de vendas, a indústria e o comércio podem empregar mais gente. A economia do país melhora. E quanto à motivação que leva multidões às compras? Não seria a generosidade, uma vez que a maioria vai aos shoppings para comprar presentes? Não seria isso inspirado no exemplo dos magos que ofertaram ao menino Jesus os seus tesouros? Mesmo que gaste parte do sermão natalino pregando contra o espírito consumista predominante nesta época, gosta de receber presentes ao término o culto. Em vez de criticar quem gaste parte de seu orçamento com lembrancinhas, por que não incentivar que pelo menos uma parte dos presentes seja dada aos mais necessitados? Você sabia que é nesta época que as crianças que vivem em orfanatos recebem mais visitas e presentes? O Natal consegue despertar o melhor que há nos homens.


Gosto de mesas fartas. Alguém aí prefere ver famílias que distribuem seus filhos entre casas de vizinhos e parentes, ou simplesmente vão dormir mais cedo por não terem condição de montar uma mesa com as iguarias natalinas? Não confunda isso com glutonaria! Em vez de criticar, líderes poderiam incentivar os fiéis a não desperdiçarem comida, distribuindo para os moradores de rua no dia seguinte. Toneladas de alimento vão pro lixo um dia depois do natal. Isso é que deveria ser condenado.


E quanto ao Papai Noel? Quer saber por que fiz as pazes com ele? Porque cheguei à conclusão de que não será uma figura imaginária que ameaçará a supremacia de Cristo no Natal. Já houve quem até satanizasse o velinho. Uma igreja na Inglaterra chegou a dizer que o seu nome em inglês seria um anagrama do nome "Satan". Isso porque seu nome em inglês é Santa Claus, devido à tradição que o associa a São Nicolau. Na mente fértil desta turma, Santa, como geralmente é chamado pela criançada, seria na verdade Satan, bastando trocar a letra “n” de lugar. # Peloamordedeus! Imagina se o meu Jesus ficaria enciumado por causa de um personagem fictício, que no imaginário popular representa generosidade! Por que não usar a própria figura do Papai Noel para anunciar a Cristo às crianças? Seria muito mais produtivo do que simplesmente demonizá-lo. Imagine alguém fantasiado de Noel numa comunidade carente, com o saco cheio de presentes pra criançada, de repente, antes de distribuí-lo, ele anuncia que o verdadeiro presente de Natal é Jesus, dado por Deus aos homens para que tenham vida eterna.


Cristo jamais foi ameaçado por personagem algum. No Natal há lugar para os magos do Oriente, para os pastores de Belém, para o anjo Gabriel, e pra tantos outros personagens bíblicos, inclusive o malévolo rei Herodes. Noel entra de penetra, mas é bem-vindo. Apesar de ser associado a Nicolau, um cristão primitivo que prezava as crianças, tornou-se num ícone natalino através de uma campanha da Coca-cola nos anos 30. Antes disso, ninguém o reconheceria vestido com aquela roupa vermelha, botas pretas, saco de brinquedos e trenó.

Dito isso, desejo a todos os meus leitores um Natal repleto de alegria e contentamento no Espírito. E que os cristãos não sejam vistos como estraga-prazeres, e sim como aqueles que têm motivo extra pra festejar.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

ORAÇÃO


Uma das maneiras de saber o que pensamos sobre Deus é ver alguém orando ou falando sobre oração.

Não gosto de algumas expressões que enfraquecem o ser humano criado à imagem e semelhança divina. Tais expressões descaracterizam o ser humano e seu relacionamento com o Pai. Digo isso porque muitas expressões como “oração forte”, “Deus só atende no devido tempo”, “Deus livra os seus”, “Deus se obriga a responder a oração do fiel”, “Quanto maior o número de pessoas orando, mais Deus se presta a ouvir e responder”, etc., além de serem inverdades, contradizem a graça de Deus dispensada a todos, enfeiam o cristianismo e empobrecem a oração.

A oração não deve ser uma bandeira hasteada que identifica um divino movido à fidelidade ou quantidade de orantes, pois, além de não sermos fiéis e dignos dessa resposta, o Deus da Bíblia mostrado por Jesus, não parece mesquinho.

Orações que buscam a aquisição e não a transformação parece o encontro que choca o velho pai ou avô que, quando chega, seu maior desejo é receber um abraço da criança e, o que encontra é a cobrança daquilo que poderia ter trazido em suas mãos.

Já conheci um tanto de gente que Deus é como um pai que representa apenas a providência mensal.

Não estou dizendo que não creio que coisas maravilhosas possam acontecer. Deus é um ser surpreendente, mas não devemos nos relacionar com ele prioritariamente no âmbito do utilitarismo.

Mais do que mão, Deus é coração, amor, relação e presença.

A oração, antes de perceber a mão, percebe o coração.

Sabe por que oro?

Oro porque a oração é a melhor parte da vida cristã com sentido.

Oro porque a oração é o caminho místico de amizade com Deus.

Oro porque a oração é o entrosamento de corações que se entrelaçam em cumplicidade eterna apesar de termos como contar o tempo.

Oração não pode ser e nem é técnica e ferramenta que mexe o braço de Deus. A oração é nosso jeito de aquietar a alma e sentir o amor de Deus entendendo o ser “Emanuel-Deus conosco”.

A oração antes de ser uma prática com hora marcada é um estilo de vida que aprende a caminhar com Deus no dia-a-dia. É como passarmos o dia com alguém que amamos e sabermos que está conosco, e quando necessário trocar idéias, desabafar, expor crises, chamar para chorar junto... coisas do tipo que limpam a alma e mostram dignidade na relação.

Se pararmos pra pensar melhor, veremos que de tanto andar com uma pessoa, acabamos parecendo com ela. Imagino que conheceremos alguém que anda com Deus quando ela se parece com Jesus.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

LIÇÕES DO ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA (João 4)


(Imagem de ailtonpastor.blogspot.com.br/Carvalho de Justiça/Artista plástico)

Grande texto aquele narrado no evangelho de João capítulo quatro que fala do encontro de Jesus com uma “mulher samaritana”, né? Fico pensando no quanto, assim como aquela mulher, sofremos nossos dilemas espirituais e como é possível sermos restaurados por Jesus.
Há quem diga que o poço do encontro ficava nas redondezas da cidade de Sicar (em Samaria), e o horário do meio dia não era conveniente para alguém ir buscar água, isso demonstra que aquela mulher estava com sérios problemas de ordem pessoal e social. Quem sabe, seria por causa de seu histórico de haver passado por cinco relacionamentos e, pior, o atual era socialmente condenável! É chato, mas muitas pessoas vivem os mesmos dilemas. São pessoas que são estereotipadas pelo currículo de desencontros. Muita gente não consegue manter um relacionamento e acaba se percebendo e sendo apontada como descartável. Imagine essa situação no primeiro século de nossa era. Pois é, pior é que, não muito diferente daquele tempo, nosso machismo ainda impera e muitas mulheres sofrem a pecha do preconceito quando o relacionamento não dá certo. Esse preconceito e silente culpabilidade nutrem no comportamento das mulheres um azedume desmedido que grita como fuga esquivante na possibilidade de ser ferida novamente. “Como tu, sendo judeu, me pede água?”.
Ela não consegue ver uma pessoa do sexo masculino sedento, mas, quem sabe, mais um a se aproveitar de sua situação fragilizada e em plena solidão do lugar. Mas, que bom que ali estava o (um) verdadeiro filho de Deus que não se aproveitou do ambiente facilitador para um flerte, antes viu uma possibilidade de contribuir com sua cura de alma. Esse comportamento de Jesus em contribuir para uma nova percepção de vida deve ser também o nosso comportamento – produzir vida e possibilidade de renovo nas pessoas que percebemos como alvo da misericórdia divina.
Sim, por que será que Jesus se refere a “água viva”?
Jesus está certo de que aquela mulher precisa de ajuda. A mulher busca a água (do poço) numa percepção diferente da dele. Ele precisa de água pra matar a sede física, e ela pra resolver seu problema interior (espiritual). Perceba que quando ele usa a expressão “água viva” ela reage fazendo apologia a possível força mística da água do poço. Numa paráfrase poderia ser assim: “O senhor quer dizer que tem água mais poderosa do que essa? O senhor sabe quem cavou esse poço e quem bebeu dessa água? Foi o pai Jacó, o patriarca da aliança”. Ao que Jesus replica: “Olha minha cara senhora, note que com todo esse poder místico, você continua com problema relacional. A verdade é que seu problema é outro e qualquer tentativa de busca nos termos místicos dessa água é apenas paliativa. Você já teve cinco tentativas frustradas e já está se envolvendo pela sexta vez e seu coração está indo de mal a pior”.
Igual aquela mulher nutrimos a mesma idéia de vincular a resposta aos nossos anseios mais profundos a um poder místico tangível. Esoterismo verificável no uso de sal grosso, velas, flores, altares, imagens, tapetes, óleo (de preferência com o rótulo de Israel), etc.
A mulher diz: “Tá bom, pois me dê dessa água e meu problema se resolve”. Veja que esse estágio nos lembra de como somos pobres em nossas percepções e como nossa ansiedade por solução nos torna frios diante de Deus. Queremos as mãos de Jesus, seus benefícios, mas ainda não percebemos que há uma busca mais nobre do que a possível força do braço de Deus – o seu coração relacional. Jesus se revela a mulher lhe mostrando o quanto quer se envolver em seus dilemas mal resolvidos. A situação pode sim encontrar resposta num encontro com Deus, mas a beleza está no processo de restauração que admite, inclusive não ter resposta concreta pra esses dilemas. O texto termina nada revelando sobre o desfecho de seu relacionamento, e nem precisa, pois, mais do que a resposta para um problema em qualquer segmento de nossa vida (conjugal, financeiro, etc.) o que nos incomoda é a ausência de quem nos sacia a sede da alma. Quando temos essa sede (que é confundida com questões físicas) somente Deus nos compreende e nos valoriza. Outra coisa, pessoa, objetos sagrados apenas nos são paliativos.
“Falando em sede espiritual, me diga de onde Deus responde orações, onde se pode adorá-lo ou onde se encontra Deus?” pergunta a mulher a Jesus. E, logo ele responde com maestria dizendo que Deus é Espírito e como tal que ser encontrado. O que me chama a atenção em Jesus é que ele, diferente de nós, ele não indica o caminho de uma religião particular onde Deus pode ser encontrado. Não houve proselitismo em sua conversa com a mulher. Ele deixa claro que como Deus é Espírito, não cabe em nenhuma religião. Não cabe em nenhuma cartilha religiosa. Deus não é propriedade privada de nenhuma religião ou igreja. De acordo com Jesus ele, Deus espera encontrar pessoas sinceras em sua fé, o percebendo nos encontros “casuais” com quem antes de levantar a bandeira de uma religião ou denominação, se é que precisa, levanta a proposta de restauração do ser como tal. Deus, segundo Jesus, procura encontrar pessoas que o adorem em espírito e em verdade. Talvez dizendo que devam viver sua fé com razão.
A mulher samaritana vê em Jesus um profeta, aliás, um vidente – alguém com capacidade de ver o que não está às claras. Era assim que os profetas antigos eram conhecidos. Outra coisa, aquela mulher entende que há um sonho utópico de que no final, tudo se resolve. Nos termos do texto ela diz: “Eu sei que o Messias (chamado o Cristo) virá”. Gente, por que nossa visão é tão embaçada e não conseguimos enxergar o que está diante de nós. Jesus disse tantas vezes e com tanta firmeza que o reino de Deus, também conhecido na bíblia como reino dos céus, ou na expressão joanina “vida eterna” já é uma verdade aqui e agora? Está claro que Jesus declarou àquela mulher que a vida, o sonho, a realidade da reconciliação não deve ser esperada, mas vivida no hoje, no já. Não digo que o futuro não aguarda grandes surpresas, mas vejo em Jesus a realidade do hoje. Então, não deixe pra viver a vida plena amanhã, mas hoje, senão você acaba se acostumando a viver o adiamento de seus sonhos.
Não dá pra ficar da mesma forma depois de tanta revelação. Algo lindo está acontecendo em seu interior. E como ela reage bem! Aquela mulher que praticamente recheada de medo da sociedade que lhe aponta o dedo, agora volta e sem temor fala sobre sua nova experiência. Numa paráfrase seria assim sua mensagem na cidade que havia sido o palco de seu sofrimento: “Venham, conheçam Jesus. Ele vê nosso sofrimento e nos dirige ao caminho de restauração”. E, como teve fruto essa sua experiência repassada na sua comunidade. Eles acabam conhecendo Jesus e declarando também haver tido experiências próprias com ele.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

TEMPO


Era um cooperador na igreja que queria apenas ser obreiro, o obreiro queria ser diácono para ter a honra de servir a santa-ceia.


Era um diácono queria ser presbítero, e o presbítero queria ser pastor para ter um ponto de pregação e ganhar almas para Jesus.


Era um pastor que queria abrir uma igreja e ter alguns membros, que logo quis ser bispo, ter pastores sob sua ordenança e ter uma mega igreja.


Com o tempo passou a desejar ter várias outras igrejas, ir para o rádio, para a TV e não se contentou mais em ser bispo, queria ser apóstolo e comprar um avião para viajar o mundo levando a "sua" pregação.


Hoje ele não quer ser apenas apóstolo, quer ter autoridade de patriarca, quer ser infalível e dominar o mundo.




E Jesus?


Jesus quis apenas ser SERVO!
E para ele o tempo não passou, continua sendo servo até hoje.




Pense nisso.

FONTE: http://cultodiferente.blogspot.com/2010/07/tempo.html

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SALVAÇÃO


É preciso aprender a nadar entre as margens do bem e do mal, do ódio e do amor, da delicadeza e da estupidez. É preciso aprender a flutuar; encher os pulmões de nitrogênio e acompanhar o vôo dos balões. É preciso também acocorar-se ao lado dos irmãos que foram agrilhoados à crueldade da vida.

É preciso aprender a levar-se a sério. Mas não tão a sério que fique impertinente, malas sem alça. Tem hora que é bom viver sem propósito, ao sabor dos ventos. Cantar no coral das cigarras, enquanto formigas seguem em fila, sem saber porque obedecem à rainha. Vez por outra é bom considerar Deus um “cara muito legal”, compreensivo e longânimo, que não mete medo, mas nos faz sentir íntimos.

É preciso aprender a acordar tarde; a comer chocolate até enjoar; a comprar perfume caríssimo para dar de presente a alguém especial; a sentar para almoçar sem hora para acabar; a desligar o telefone celular; a conversar um monte de besteira só para rir à solta; a conversar com doido; a ler romance.

É preciso aprender a falar da morte, mas não ser mórbido; a acompanhar esportes, sem ficar muito deprimido com derrotas; a aplaudir trapezistas, equilibristas, contorcionistas, mágicos; a nunca confundir solidariedade com comiseração; a não esconder a inveja debaixo do lençol da discordância; a cantar no banheiro.


Soli Deo Gloria

Fonte: http://ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=65&sg=0&form_search=&pg=4&id=2161

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

E Deus com isso?


Acho que não há dúvida que “tudo” é permitido por Deus. É fácil conferirmos isso através das notícias sobre a violência urbana, e sobre as mais diversas catástrofes naturais. De fato, não vemos nenhum movimento sobrenatural de Deus impedindo de forma concreta esse ou aquele fato. Sequestros, estupros, terror, morte covarde de crianças, jovens e adultos já nos sobejam nos noticiários.

Outra coisa que podemos afirmar que nem todo mal é mal em si. Sabemos que a tsunami foi um horror (mal) porque no seu trajeto muitos foram vítimas humanas. Uma enchente de um rio que levou centenas de casas e fez muitas vítimas assim ocorreu, não porque a enchente em si é um mal, mas por causa dos vitimados. Da mesma forma os tremores de terra acontecem, não por causa do homem, mas por causa das placas tectônicas. Isso nada tem a ver com o que é bom ou mal, a não ser quando sofremos.

E Deus com isso? Há algumas nuances observáveis nessa argumentação. Deus não deve ser responsável pela catástrofe como mal lançado contra os humanos maus, pois seria injustiça contra os “bons” que sofrerão de graça. Não creio que Deus mate a granel.

A presença do mal como sofrimento pode também ser vista como liberdade humana, logo amor de Deus. Deus “permite” tudo porque nos deixa livres para viver nossas escolhas. Há aqueles que escolhem a facilidade de moradia perto de vulcões pela beleza do lugar, aqueles que foram morar (escolha ou falta dela?) perto do açude ou rio para servir ao patrão entre o curral e a casa grande, aqueles que por um motivo ou outro moram em lugares com freqüência de catástrofes, e ainda aqueles que em nome da fé derrubam aviões. E Deus permite? Sim, quem pode afirmar que não? Ele permite e sofre com tudo isso, basta lembrar que ele não agüentou nem ver seu filho sofrendo na cruz (Por que me desamparaste?), – identidade de nossos sofrimentos que, afinal, ele os levou sobre si.

Por outro lado, é claro que não duvido de seu poder, mas duvido que esse poder não seja expresso nas raias do amor. Porque, quem sabe esse todo-poderio não seja apenas mais sofrimento em nome de sua soberana escolha de amar, por isso nos deixar viver nossos dilemas enquanto nos convida a cuidar de nosso planeta?

sábado, 31 de julho de 2010

NÃO APAGUE O EVANGELHO DA CRUZ


Tenho muita dificuldade de compartilhar de um culto onde a bandeira mercantilista está hasteada. Não suporto esse apelo que mais parece um canto de sereia de tão atraente que é nesse nosso veio capitalista cristão. Em vez de humildade, temperança, contrição, adoração... estamos ensinando técnicas de oração de conquista. Que tipo de gente estamos formando em nossa geração? Teríamos coragem de declarar que a igreja de hoje está gerando gente de fé? De onde veio nossa coragem de pinçar versículos que apóiam de forma inescrupulosa um triunfalismo esdrúxulo e desprovido de verdade no dia-a-dia de milhões de pessoas que se tornam presas fáceis pela avidez de seus corações ou por causa de suas carências. Infelizmente cresce o número de profetas que usam o nome de Deus para respaldar seus absurdos (pode ler abusos). Pior é que há um sufoco pelo apelo e prela pressão da necessidade de respostas que tragam luz para a demanda reivindicatória de resultados imediatistas.

O modelo da fé mercantilista em seus muitos apelos solidificados na necessidade das ovelhas carentes, que não se dão ao luxo de serem guiadas por pastores que, por sua vez não se dobram ao preço da amostra grátis da fé, promove uma ambiência satisfatória e persuasiva ao mesmo tempo paliativa, porquanto superficial e enganadora. Quem não gostaria de ganhar sete vezes mais depois de recitar uma oração mágica e fazer um depósito bancário em nome de uma instituição que garante inescrupulosamente, que coisas maravilhosas estão acontecendo? É difícil para muitos não caírem nesse apelo covarde. Isso nada tem a ver com fé. Isso nada tem a ver com Jesus de Nazaré, e nada tem a ver com o objetivo da igreja cristã.

Será que, por isso não acredito em Deus? Será que não tenho fé? Será que sou desviado? Será que fiquei cético? Claro que não. Claro que acredito no Deus da bíblia. Creio que esse Deus age como sempre agiu na história humana. Acredito num Deus que responde orações. Acredito na possibilidade de cura e na paz que enche o coração abatido. Creio na justiça para os oprimidos e providência divina que antes mesmo de cairmos na balela da luta para conquistar algo dEle, já houve um sentido de seu cuidado em relação a nós. Creio na palavra que diz que Ele já nos concedeu em sua graça toda a sorte de bênção. Somos abençoados até mesmo em nossas tribulações. Por isso há vocacionados nas mais diversas áreas do fazer humano (homo faber) que é capaz de ser parceiro de Deus na construção humana. Não consigo crer na busca materialista gananciosa e egocêntrica como prova de fé, nem na satisfação ufanista de ser filho e filha do Rei, quando por isso estou livre das surpresas da vida.

Tremo em pensar que a palavra de Deus, bem como termos gospels do tipo “Deus é fiel!”, “Deus é maior!”, sejam motivados não pelo apelo catafático de declaração positiva de quem Deus é, mas motivados apenas pelo sentimento de uso do próprio Deus em causa própria ou, pelo menos, como uma espécie de amuleto que determine a vitória e o poder de “amarrar o inimigo da minh’alma”.

A proposta cristã é a formação do caráter e da convicção de que Deus é vivo e verdadeiro em toda e qualquer situação. O problema de um cristão criado a partir do apelo gospel mercantilista é que este está fadado a viver o medo da perda pelo engodo da barganha com Deus.

Está na hora de percebermos que o cristão criado à sombra do evangelho da cruz, que a despeito das dificuldades, nunca se sente frustrado nem desapontado, pois sabe que seu Redentor vive e que por fim se levantará em sua história como resposta de restauração prometida àqueles que nascem à margem da cruz. O cristão deve saber que como filho ou filha de Deus, ainda que não haja lugar na hospedaria ele(a) não teme vir ao mundo, apesar dos conflitos, traições, abandonos, incompreensões, e, mesmo sabendo que seu próximo passo pode ser a cruz, até essa cruz pode ser palco de sua revelação de filho ou filha de Deus e, é aí onde o poder do Pai se aperfeiçoa em sua limitação humana.