terça-feira, 16 de dezembro de 2008

UM REINO DE CRIANÇAS


Os textos bíblicos relatam um incidente bem intrigante. Jesus percebe que algumas pessoas traziam crianças para serem tocadas por ele. Os adultos, perdão, os discípulos, num surto de zelo diante do aglomerado de pessoas buscando uma atenção do mestre, repreendiam aqueles que se esforçavam para conduzir suas crianças a Jesus. De imediato foram repreendidos por esse ato equivocado. Jesus se mostra totalmente acessível às crianças. Ele foi mais além revertendo a posição quando disse que o Reino de Deus era delas, e quem quisesse participar desse Reino deveria se posicionar como tais.

Rubem Alves cita em seu gostoso “Ostra feliz não faz pérola” o místico Jacob Boehme que disse que “a única coisa que Deus faz é brincar. Os homens perderam o Paraíso quando deixaram de ser crianças brincantes e se tornaram adultos trabalhantes”.

Fico pensando comigo mesmo e me questiono: Puxa, será que todo meu esforço de me tornar gente grande vai me afastar do Reino de Deus? Será que preciso rever algumas características perdidas no processo de adultamento? Mas, o que posso ter perdido que também fez me perder do Reino?

Acho que preciso voltar os olhos para o texto bíblico e entender que o mestre e salvador quis me fazer entender. Por certo, não é que tenho que encarnar um espírito de Peter Pan, nem um adulto com comportamento infantil e irresponsável. Creio que Jesus nos chama a atenção para algumas características que não deveríamos deixar na infância.

Podemos, sim, apesar do adultismo ver que perdemos muito do sabor de sermos mais verdadeiros conosco mesmo e com os outros.

Será que a mensagem não queria nos lembrar que o Reino é um espaço-dimensão apropriado para explorarmos o perdão, a dependência do toque da mão divina, a vivência do sonho sem o estresse do ser adulto? Não será verdade que perdemos a delicadeza do sorriso verdadeiro, e mascaramos nossas necessidades, carências, status social, e estado de espírito?

Com tudo isso, entendemos que o Reino de Deus é um Reino de “crianças” dispostas ao aprendizado, atentos mais à beleza poética da vida do que o escrutínio estressante que coisificam essa vida, os seres humanos e seus movimentos. Se observamos o desdobramento tríplice das crianças que brincam-brigam-brincam entenderemos que isso acontece porque elas preferem a felicidade à razão. Isso é disposição ao perdão à cura da alma e ao ver o outro como ser igual. Isso pode nos indicar uma infantilidade ou ingenuidade diante da realidade adulta? Pode, mas também nos lembra o que perdemos de sensibilidade.

De qualquer forma, desejo esse Reino de crianças, apesar de meu desenvolvimento natural. Ele me coloca mais perto de Deus, perto da vida, perto da felicidade possível e, principalmente com um “toque” da benção divina.

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