Ainda criança ensinaram-me a arte da
oração. Um caminho de busca e de intimidade com Deus. Busca-se a Deus por
saber que todo pai deseja cuidar de seu filho e se queda disposto a atendê-lo
e, intimidade devido ao fruto de uma vida de oração.
Ensinaram-me que quanto mais o
buscasse, mais rápido seria atendido. Quanto maior o lamento, mais certeza
poderia ter de ser contemplado. Perdi a conta de quantas vezes andei em
vigílias até o sol raiar e em círculos de oração das tardes. Observava que a relação dos
pedidos sempre foi bem maior do que a da gratidão; tudo era contrição e oração.
Os pedidos eram tão suplicantes que
fazia pena ver alguém orando. Chorávamos ao fazer cada oração, mas depois de um
tempo, nascia a esperança de que Deus havia nos ouvido, logo a
resposta também viria. E com a voz embargada, dizíamos: "Amém!".
Ainda hoje gosto de oração, mas o
tempo nos provoca o pensar e o repensar. O olhar se torna maduro e mais
“exigente” no sentido dos "como" e "por quês", se dessa ou daquela maneira.
Por que a súplica? Devido uma
extrema necessidade ou pela falta de respostas e a limitação do orante.
Oramos com muita naturalidade como
quem conversa com alguém próximo numa esfera de relacionamento entre seres onde
não há cobrança nem lamento, só compartilhamento. Nesse sentido a oração gera
alivio e confiança existencial.
Mas, me preocupo com a exigência da
súplica, da face no pó, da prostração, do jejum ou de qualquer outra tendência ascética. Ora,
se é verdade que o Pai conhece seus filhos e filhas e que ele sabe o que quer
antes mesmo de comunicar-lhe algo, por que a petição suplicante e ofegante? Por que tem que se humilhar?
Penso que, se
choramos ou lamentamos uma situação, não fazemos por exigência de fator sine
qua non para ser atendido, mas por sermos humanos, gente se sente gente em estado de carência.
A exigência da súplica, da contrição,
da humilhação desdiz de um Deus-Pai bondoso. Não dá para mensurar o nível a se
chegar a tal humilhação e, por isso ser atendido, acolhido. Eu creio num Deus
pai que, antes de tudo, conhece cada um de nós e sabe de nossas limitações.
Deus é maravilhoso e encontra em
nós, não a humilhação, não a prostração, mas a atitude orante que permeia os passos de quem busca sua companhia e seu colo!
Quando oro, o faço, não quem precisa se humilhar para ser exaltado, mas como sinaliza o desejo de Deus na oração. Quando oro, o faço em atitude existencial, ainda que ninguém perceba que estou orando, senão que estou vivendo, vivendo um estado de oração e vida com o Pai.
Josué Gomes.
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