segunda-feira, 8 de maio de 2017

UMA COMUNIDADE PENTECOSTAL

Sou filho de um pentecostalismo histórico. Cedo aprendi a buscar o batismo no Espírito Santo. Isso se elaborou em meu interior como força divina no ser humano fiel.

Como pastor estimulei as pessoas buscarem o poder do alto e se encherem do Espírito e pedirem dons espirituais. Vi muita gente sair falando o que chamávamos “língua dos anjos”. Nesse tempo ainda não entendia que “anjos” não falam essas línguas que se falam nos ambientes pentecostais, aliás, logo aprendi que era um termo poético de chamado a intimidade com o divino.

Se os dons espirituais na antiguidade eram entidades espirituais de suporte para o exercício de tal habilidade, e depois se entendeu como dádiva distribuída aos fiéis para exercício comunitário, logo, fazendo revista ao meu pentecostalismo percebo que temos uma proposta comunitária e não pessoal que pode gerar uma vaidade pentecostal. Eu sou membro da mesma igreja que a sua, com um diferença, eu sou batizado e tenho o dom e você não. Essa distinção não é saudável e não promove harmonia, mas instrumento de poder em nome de Deus e até de subjugo.

Faço eco ao pensador Elienai Cabral Jr quando diz que “A experiência do Batismo não é solipsita. [...]. É comunitária, porque é uma experiência de relacionalidade e não de exclusividade. Os dons do Espírito, curiosamente, só se justifica na comunhão”.

Os textos bíblicos, por certo, não discordam da mudança de foco que fazemos, isso é, em vez de hoje perguntarmos quem é batizado no Espírito Santo, podemos perguntar se essa comunidade está imergida nesse Espírito, pois não cabe mais perguntarmos se alguém fala em línguas estranhas, mas se o diálogo é harmonioso no amor; em vez de perguntar sobre dons de cura, perguntemos se a nossa comunidade trabalha a cura uns dos outros; em vez de buscarmos alguém com dom de exorcizar, procuremos em nós a possibilidade de lutar contra tudo o que entendemos como anti-vida; e continuemos perguntando se a comunidade está disposta a continuar sonhando e se consegue discernir o tempo com seus espíritos que saqueiam a humanidade que desaprendeu a ver Deus na beleza da vida.

Não sou eu que devo ser batizado, mas busco que minha comunidade seja absorvida pelo Espírito de vida, aliás, devo perguntar se nela ainda há vida!


Josué Gomes

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