Sou filho de um pentecostalismo
histórico. Cedo aprendi a buscar o batismo no Espírito Santo. Isso se elaborou
em meu interior como força divina no ser humano fiel.
Como pastor estimulei as pessoas
buscarem o poder do alto e se encherem do Espírito e pedirem dons espirituais.
Vi muita gente sair falando o que chamávamos “língua dos anjos”. Nesse tempo
ainda não entendia que “anjos” não falam essas línguas que se falam nos
ambientes pentecostais, aliás, logo aprendi que era um termo poético de chamado
a intimidade com o divino.
Se os dons espirituais na
antiguidade eram entidades espirituais de suporte para o exercício de tal
habilidade, e depois se entendeu como dádiva distribuída aos fiéis para
exercício comunitário, logo, fazendo revista ao meu pentecostalismo percebo que
temos uma proposta comunitária e não pessoal que pode gerar uma vaidade
pentecostal. Eu sou membro da mesma igreja que a sua, com um diferença, eu sou
batizado e tenho o dom e você não. Essa distinção não é saudável e não promove
harmonia, mas instrumento de poder em nome de Deus e até de subjugo.
Faço eco ao pensador Elienai Cabral
Jr quando diz que “A experiência do Batismo não é solipsita. [...]. É
comunitária, porque é uma experiência de relacionalidade e não de
exclusividade. Os dons do Espírito, curiosamente, só se justifica na comunhão”.
Os textos bíblicos, por certo, não
discordam da mudança de foco que fazemos, isso é, em vez de hoje perguntarmos
quem é batizado no Espírito Santo, podemos perguntar se essa comunidade está
imergida nesse Espírito, pois não cabe mais perguntarmos se alguém fala em
línguas estranhas, mas se o diálogo é harmonioso no amor; em vez de perguntar
sobre dons de cura, perguntemos se a nossa comunidade trabalha a cura uns dos
outros; em vez de buscarmos alguém com dom de exorcizar, procuremos em nós a
possibilidade de lutar contra tudo o que entendemos como anti-vida; e
continuemos perguntando se a comunidade está disposta a continuar sonhando e se
consegue discernir o tempo com seus espíritos que saqueiam a humanidade que
desaprendeu a ver Deus na beleza da vida.
Não sou eu que devo ser batizado,
mas busco que minha comunidade seja absorvida pelo Espírito de vida, aliás,
devo perguntar se nela ainda há vida!
Josué Gomes
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